Sunday, April 23, 2017

Meu amor






Meu amor, você me descadeirou
Corpo fremiu, baba caiu, a alma descontrolou
O pântano que atravessei até chegar ao teu coração, terreno árido, chão rachado
A ogiva nuclear do teu olhar, minha garrucha e teu canhão, nós sem estação
A mão espalmada no norte, no sul o corte, o dedo brincando na ferida
Meu amor, você é minha vida

De lombo dormente, voz tremente, o cabelo um mar agitado de paixão

Eu tua máquina de tirar leite, em ti grudada, máscara famélica e crispada

Nossos ossos em comunicação terrena, me fazendo plena na régua da tua métrica 

Meu amor, não sou mais tétrica

O nosso espelho avariado, um rosto arrebatado de prazer 
Tua emergência penetra e enche, refocila em mim uma esperança
A vida menos lívida em jatos canta e dança 
Meus músculos te dizem meu amor, em mim a casa tua
Meu amor, para sempre me possua.

Monday, April 10, 2017

Eu e meu desejo de ser eu


(para Ricardo Nolasco. Para Momo: para Gilda com Ardor)




Eu negro o suco do meu suor grudado na roupa. Eu escuro imperfeito nadando no sebo do tempo. Eu gordo sedento comendo na borda do vento. Eu e meu desejo de ser eu. Eu claro vexame eu que recebo o gongo retumbante da natureza. Eu transexual sem igual sem moral andando nua nas ruas de uma Curitiba vazia. Eu dessa vez deficiente movendo-me loucamente sem espaço sem tez. Eu mulher parindo com dor sem amor com odor eu e o veneno da beleza. Eu branco cheirando a peste nos repolhais meus ais meus sais só reclamo. Eu e a tristeza de ser homem nos dias de hoje me arrasto. Eu e meu desejo de ser eu. Eu Momo dançante figura que sorri que samba que dança sobre o pó de uma desgraça. Eu essa farsa eu na brincadeira de perder cadeira. Eu de bruços de bode eu e meu lugar de pobre. Eu descalço tremendo percalço a caminho do abrigo. Eu lixo poroso vigor vaidoso de quem escapa para pertencer. Eu Gilda malabarista eu e meus beijos de loucura eu sem doçura pedindo dinheiro e afeto eu sem família eu sem teto. Eu e meu desejo de ser eu. Eu o mesmo eu muitos outros eu unidade multitudinária eu e minha vida ordinária. Eu e a necrofilia das relações conturbadas eu e minhas vacas sagradas. Eu cão sem dono rei sem trono eu uma vida lançada minhas pernas aladas. Eu sem mãe eu sem pai eu e o domínio do mal eu canibal. Eu tremendo de raiva eu babo eu travo eu lingote do humano. Eu sem dano eu canto eu sem pano sem traço meu desenho escasso. Eu e minha magia morrente minha estrela cadente eu sem plano. Eu amor decadente eu furacão dormente eu sem dente eu sem nada. Eu e minha língua fluente eu flâneur cosmonauta inconsequente eu sem pauta eu sem droga. Eu e meu desejo de ser eu. Eu que meu black bloc é bricabraque eu no atraque sem ganhar nem perder. Eu sem temer. Eu intenso eu penso que tenso é saber sem viver. Eu e meus sonhos mais selvagens eu nas ramagens eu pura paisagem. Eu descolado da cena eu terrena eu perene eu serena travesti. Eu obeso de alegrias e benesses eu e a tristeza que engoli. Eu que sofri eu que virei o jogo eu que dei o troco. Eu simulação do acaso eu sem tamanho eu que apago. Eu que me vire eu tortuoso eu que escorro por onde os pés já não pisam. Eu e minhas torres de marfim eu nos calabouços eu nos porões militares eu nos chãos batidos eu e meu giz. Eu e meu ego inflado eu que digo não eu ancião. Eu gato malhado eu escaldado eu outro sim eu sem fim. Eu tabagista enjaulado eu e minha cidade cárcere privado. Eu e minha ilusão eu e minha fábula eu bandido sem alma. Eu prestidigitador do infinito eu que agito eu e meu grito do sétimo andar. Eu e meu desejo de estar. 

Monday, February 06, 2017

Carta aos meus detratores

Para aqueles a quem eu não agrado, o meu foda-se. Para aqueles que me insultam, o meu foda-se. Para aqueles que me adulam para conseguir coisas, o meu foda-se mais forte ainda. Foda-se a cara do nojo, foda-se toda família tradicional brasileira que estiver vestida e fora da oca, fodam-se os burros que se atolam na lama da miséria emocional, fodam-se os espertos, esses sempre mais burros que os outros, fodam-se os políticos, fodam-se os vices, os interinos e todos aqueles em exercício, foda-se o presidente e sua mulher inepta também, fodam-se ricos e pobres em sua dança ritual fracassada, foda-se o sucesso e foda-se o malogro, foda-se todo machismo e foda-se todo feminismo radical, foda-se a peste e foda-se a riqueza exorbitante que algum velho sacana te tirou, fodam-se os novinhos da direita transante e foda-se a esquerda macumbada que não anda na linha, fodam-se os párocos, os padres velhacos tarados, as freiras em cujo peito Satanás se esconde, fodam-se pastores viciosos que arrancam dinheiro da terra da tristeza, fodam-se a televisão e a internet, foda-se a foda mal dada, incompleta, porca e mal gozada, foda-se a venda mal feita, o site que não abriu, foda-se o carro que poluiu, foda-se a namoradinha do Brasil, que de velha desdentada caiu, foda-se o apresentador troglodita que não sabe ler nem escrever, foda-se o imbecil que os outros fodidos puseram no pedestal, foda-se o mundo setentrional, foda-se a arte encomendada para vender pasta de dente, foda-se a selfie tirada na praia, o óleo de coco, foda-se a roupa no meu corpo torto, foda-se a vó, a tia e a vizinha pelancuda e depressiva, fodam-se os mortos que puderam fazer coisa em vida e não fizeram, fodam-se os filhos dos filhos dos filhos que de esperança já não carregam mais nada, foda-se o passado rebocado no fundo da gaveta, foda-se o futuro prateado, fodam-se as guerras que só enriqueceram os idiotas, foda-se a academia que só listou o que já existia, foda-se a construção cíclica de muros que uma vez erguidos precisaram ser derrubados, fodam-se os muros que ninguém viu mas muitos sentiram, foda-se o amigo esquecido, fodam-se os inimigos defuntos e vivos, fodam-se os bancos, fodam-se os tratados, fodam-se as convenções, fodam-se pais e mães, fodam-se as fronteiras, os calabouços e os calabocas, fodam-se as ditaduras, as bíblias, os alcorões e as torás, fodam-se os governos, foda-se a poesia mais fodida, foda-se o fedor da terra que queima sob o sol, fodam-se o crepúsculo e o frio, foda-se o vazio, fodam-se as corporações, fodam-se os homens que choram e as mulheres que embalam, fodam-se os dentes carcomidos dos dragões, fodam-se as bandeiras e as organizações, foda-se a literatura jamais lida, foda-se a alma ruim que foi parida.



Se vocês tiverem se fodido - mas só se tiverem se fodido - aí vocês tem minha autorização para voltar a falar comigo.

Monday, June 20, 2016

Dramaturga transexual brasileira Leonarda Glück reúne seis de suas principais peças em seu primeiro livro




A atriz, diretora teatral e dramaturga transexual Leonarda Glück lança, em parceria com a jovem Editora Dybbuk, seu primeiro livro, com seis peças teatrais especialmente selecionadas para a publicação, no próximo dia 2 de julho na Casa Selvática, sede do coletivo artístico que abriga a escritora, em Curitiba, sua cidade natal.



Convidada por Luciano Ramos Mendes, que comanda a Editora Dybbuk há apenas um ano, para a empreitada de lançamento da obra, Glück diz que foi com espanto e prazer que aceitou o convite: “O Luciano é meu amigo faz tempo, e nós dois temos em comum a paixão fervorosa pela literatura. Ele me deu carta branca para que escolhesse da minha produção literária o que quisesse lançar, e foi aí que aproveitei o ensejo para lançar algumas das peças de teatro que escrevi: sonho de anos que sempre tive. Dramaturgia é coisa raríssima na literatura brasileira, quase uma categoria fantasma, restrita àqueles que tem apreço pela linguagem teatral, e eu quero mudar isso”.


Serão lançadas seis peças para teatro sob o irreverente título “A Perfodrama de Leonarda Glück – Literaturas Dramáticas de Uma Mulher (Trans) de Teatro”, algumas já encenadas e outras ainda inéditas. A tarde de lançamento contará com leituras dramáticas de alguns trechos das peças que compõem o livro. Os textos de dramaturgia contemporânea são “As Três Irmãs, Um Melodrama Rocambolesco em Quatro Capítulos”, inspirado pelo clássico teatral do autor russo Anton Tchekhov (texto feito sob encomenda do diretor Gabriel Machado, que ganhou encenação pela Selvática Ações Artísticas na Casa Selvática em 2012), “Cutelo Assassino, Uma Tragédia Grega de Atrocidades” (o texto ganhou leitura dramática em evento na Casa Selvática, em 2015), “Jesus Vem de Hannover” (encenado pela Companhia Silenciosa em 2008 no Teatro Novelas Curitibanas), “O Faqueiro de Górgona ou Górgona e As Mil Facas Encantadas” (o texto já foi lido em alguns eventos de teatro em Curitiba, por diferentes grupos, mas ainda não ganhou montagem oficial), Rebecca ou David Começa a Babar” (encenado pela Companhia Silenciosa em 2010 e indicado ao Troféu Gralha Azul de Melhor Texto) e “Stoccarda” (inédita). Quando questionada sobre o título do livro, a autora responde: “A minha figura está intimamente conectada com tudo aquilo que produzo, portanto, com o teatro que faço não seria diferente. O teatro performático que tenho apresentado no Brasil nos últimos vinte anos é uma justaposição do campo do drama em si com o da performance arte, e a sexualidade de uma mulher como eu também deve ser levada em conta nos resultados que fabrico. Se há tantos “homens de teatro” espalhados por aí, por que não uma mulher trans de teatro?”

No livro temas como amor, neocolonialismo, globalização, linguística, transexualidade e conflitos mundiais dão o tom de um teatro provocativo que deseja ser absorvido por escolas, faculdades e grupos de teatro e artes do país todo, um teatro que gera reflexão em vez de mero entretenimento. O texto que abre o livro de Leonarda Glück é escrito pelo diretor teatral Ricardo Nolasco, colega de palco da autora há dez anos. O material textual é também acompanhado de um ensaio fotográfico exclusivo da artista, que também é performer nas horas vagas, feito pela fotógrafa cearense Natália Marques no início de 2016 em Curitiba. 



Serviço:
Lançamento do livro “A Perfodrama de Leonarda Glück – Literaturas Dramáticas de Uma Mulher (Trans) de Teatro”, da Editora Dybbuk;
Data: 2 de julho;
Local: Casa Selvática – Rua Nunes Machado, 950 – Rebouças – Curitiba – PR;
Horário: 16 horas.

Friday, April 29, 2016

A artista transmídia Leonarda Glück lança na rede a videoarte autoficcional “No documento é homem, mas aparenta ser mulher”

"Atenção: os documentos do PAX estão como homem, porém ele tem aparência de mulher. Favor não causar constrangimento ao PAX. Costumam chamar de Leo ou Leonarda" foi o que leu, já sem conseguir respirar direito, a transex asmática e periférica lá da Fazendinha — a sua roça iluminada — , em sua conta de hotel em SP, a locomotiva do país, onde o amor tem cara de fumaça tóxica. Talvez fosse feliz no mato ou no morro, pensou sorrindo, e acendeu um cigarro, como se fumando apagasse o PAX tão tortuoso em seu papel social.

Concepção, texto e performance: Leonarda Glück; 



Trilha sonora original e videoarte: Jo Mistinguett;



Esta videoarte é parte integrante do projeto Sim, somos bizarras, contemplado pelo Programa Rumos Itaú Cultural 2013 - 2014.


Assista à videoarte aqui:

Sunday, March 20, 2016

Vem aí Dalton Cabaré na Curitiba Mostra no Festival de Curitiba 2016!

A Curitiba Mostra reúne importantes nomes da literatura e do teatro curitibanos na edição 2016 do Festival de Curitiba, que tem início na próxima terça-feira (22). A atração mescla escritores, diretores, atores e demais criadores naturais da cidade ou que nela estão ou já foram baseados.

O Espaço Cênico convida a Companhia Brasileira de Teatro, a Selvática Ações Artísticas e a CiaSenhas de Teatro para levar à cena obras dos escritores Dalton Trevisan, Manoel Carlos Karam, Wilson Bueno, Alice Ruiz, Luci Collin, Leonarda Glück e Priscila Merizzio.

No próximo dia 24 de março, quinta-feira, a mostra abre com o espetáculo 'Dalton Cabaré', uma mostra da obra do famoso contista curitibano Dalton Jérson Trevisan em ambientação de inferninho, no espaço Guairacá Cultural, na Rua São Francisco, 179 - Centro Histórico da cidade de Curitiba, Paraná, Brasil.









Sunday, November 29, 2015

Sem demora me despeço

Das coisas que amo, qual levar desta vez? Daquilo que me é dado levar, não vejo para onde levar, não sei por onde arrastar dor e carcaça cansada, o fio do caminho íngreme é perdido. Sinto voltar, com a mirada de Maria, a pá de terra sobre o rosto da mãe morta. A memória da naftalina, na turbidez dos sonhos eu aguardo em choro a chegada da luz. O medo desesperado da mão que jamais virá para o abraço, o preço do tempo já cobrado, os fantasmas são covardes. O piscar de olhos já não apaga mais nada, retorna e engole, com a esquina as costas redobram, a iluminação dos deuses veio em forma de moeda gasta: ancinho e caraminguás sem dó. Das coisas que amo, a palma não conseguiu carregar o pó quente dos ossos queridos, a carne sem magia nem sentido, dos anos ficam bolero e foto no porta-retrato empoeirado, a ceifadeira final não conhece limpeza terrena. Com as mãos pego o vão entre corpo vestido e espírito nu, o chorume das lembranças, o doce afeto da criança, teu revólver o cigarro, mata-te a ti já, aqui e agora, que ao mundo tu te demoras a matar. Entre o teu querer e a minha volta morrem pai, filho e todos os espíritos santos, resta sangue, medo e história arcaica. Restam as décadas felizes, o sorriso ingênuo em cujas águas o tempo ainda não cravou seu raio, a neve das têmporas ainda não rasgou tua carne, o teu peito ainda não conheceu terremoto e assombrações, é preciso chorar o choro de anos engolido, é preciso deitar no berço de espinhos da tua felicidade. É preciso desver a seiva para acreditar no amor, é preciso olhar a raça de frente para crer na peste. Das coisas que amo letra, esmero e quimera na fronte, as artérias trepidam, o regalo é a sombra. Das coisas que amo a receita é não levar, é deixar o sonho a vibrar com o socorro entalado na garganta. A moral é o tombo. Grávida, como quem com Lúcifer dormiu, a esperança é abortada. Natimortos, feto e utopia imploram pela vida que jamais terão. Em êxtase a plateia grita, sangrando, o touro cai, nas ruas a lua que gira é perdição e fuga estrelada. Das coisas que amo levo cabeça febril, corpo insultuoso e língua ferida. Das coisas que amo levo o trottoir de uma paixão que atravessa as galáxias descoradas. Das coisas que amo levo a dança infecunda das tripas e o idílio dos porcos no cocho da morte. A vida um sonho enquanto morrer uma verdade sem ilusão.            

Wednesday, October 21, 2015

CLÁSSICOS INÉDITOS DE LEONARDA GLÜCK – Leituras Dramáticas na Casa Selvática


A Casa Selvática promove ciclo de leituras dramáticas de quatro textos para teatro da dramaturga contemporânea transexual brasileira Leonarda Glück


Na obra de Glück aparecem temas como amor, neocolonialismo, globalização, linguística, fronteiras, tecnologia, guerra, ameaça nuclear, conflitos mundiais, Brasil, sexo, violência, dominação e poder. 

CLÁSSICOS INÉDITOS DE LEONARDA GLÜCK – Leituras Dramáticas na Casa Selvática trata, com refinada ironia, das cambiantes relações culturais, políticas e afetivas que se estabelecem entre comunidades, países, continentes e seres humanos, acostumados sempre a legitimar e hierarquizar sua cultura por sobre todas as outras, mesmo que distantes e longínquas. Com um olhar lúcido e sagaz, os textos de Glück trazem a possibilidade de análise acerca do problema cultural contemporâneo que consiste em parodiar, satirizar hábitos, costumes e vigências estrangeiros à moda da própria cultura, nem sempre superior ou sequer melhor definida que outras por seu mero uso recorrente. A questão linguística surge para amparar, dialogar, sublinhar, negar e mesmo parafrasear saberes culturais, políticos e sociais determinantes de culturas seculares e/ou contemporâneas, enfatizando a necessidade de sensibilidade e conhecimento aprofundado sobre aquilo com o que não se tem familiaridade, chamando para o saber emocional e afetivo a responsabilidade de estabelecer vínculos mais duradouros do que o mero entendimento sobre fronteiras que separam nações e seres humanos, nelas trancafiando seus costumes, muitas vezes xenófobos e intolerantes.

Quatro artistas diretores lideram a encenação de cada uma das quatro leituras, realizadas de quinta a domingo, do dia 22 ao 25 de outubro. São eles Ricardo Nolasco, Gabriel Machado, Simone Magalhães e Semy Monastier; as obras para teatro a serem lidas no evento são “Linda Blair entra na sala”, “The Mango Tree”, “El Murciélago Desenfrenado” e “Cutelo Assassino – Uma Tragédia Grega de Atrocidades”; ao todo são mais de quinze artistas envolvidos no projeto, o primeiro em que a Casa Selvática apresenta dramaturgia contemporânea inédita, textos jamais levados aos palcos antes. A Casa Selvática abre uma hora antes de cada apresentação, para que o público possa circular pelo ambiente e familiarizar-se com as diversas linguagens que convergem dentro do espaço selvático.

SERVIÇO:

LINDA BLAIR ENTRA NA SALA 
Direção: Semy Monastier
Com: Patricia Cipriano, Nina Ribas, Stéfano Belo, Saulo Meduna, Victor Hugo e Matheus Henrique
22 de outubro de 2015 (quinta-feira)



THE MANGO TREE 
Direção: Simone Magalhães
Com: Verônica Rodrigues, Nina Ribas e Semy Monastier. Convidado especial: Hélio Brandão
23 de outubro de 2015 (sexta-feira)



EL MURCIÉLAGO DESENFRENADO 
Direção: Gabriel Machado
Com: Gustavo Bitencourt, Stéfano Belo, Renata Cunali e Mari Paula
24 de outubro de 2015 (sábado)



CUTELO ASSASSINO – UMA TRAGÉDIA GREGA DE ATROCIDADES 
Criação: Ricardo Nolasco e Patricia Saravy
25 de outubro de 2015 (domingo)



Entrada: R$ 10,00
Passaporte para os quatro dias: R$ 30,00
(Meia entrada para estudantes, idosos e classe artística)



A Casa Selvática fica na Rua Nunes Machado, 950 – Rebouças – Curitiba – Brasil.

Saturday, January 04, 2014

Quando não der na alma, na cara, no estômago, soque a próstata e eu ficarei feliz



Se sem vaselina vá com calma, que a dor no espírito é tamanha e cheia de contra-indicações, o corpo aguenta, já tão dilacerado, o intelecto perturbado com a náusea despontando na raiz da língua, o deslizar passa a ser fluido, límpido e corrente bem onde o coração estanca, tranca a porta dos canais infernais, e faz o preço do pedágio.

 Permita-me aqui uma certa hipnotização pela linguagem, pela linguada, pelo caráter descaracterizado, uma certa subjetividade que não alcançará a muitos, que cairá num colossal ostracismo, as palavras porcas das damas indignas que te fazem meia bomba, que te causam o desejo e o asco, eu não quero putrefazer a sensação em amor, eu quero o rasgo bradado, o destrinche da carne em duas ou mais, eu fico do lado dos ímpios.

Se não se pode impedir a violência de acontecer, goze-a.

Sunday, November 24, 2013

Troféu Gralha Azul 2013




A atriz, dramaturga e sonoplasta Leonarda Glück foi indicada ao Troféu Gralha Azul 2013, a principal premiação de teatro do Paraná (criada em 1974), pelo espetáculo As Tetas de Tirésias - Vamos esbofetear Ulisses, na categoria Melhor Sonoplastia.

É a segunda indicação ao troféu para a artista e, no entanto, a primeira vez que O Estábulo de Luxo, em parceria com a Selvática Ações Artísticas, concorre ao troféu paranaense.

"Só tenho a agradecer imensamente e cheia do amor que faz o nosso mundo girar aos criadores e idealizadores do projeto, e também a toda a equipe formada só por deusas fabulosas de proporções paquidérmicas: os meus parceiros incríveis e talentosos da Casa Selvática e da Selvática Ações Artísticas (que são novinhas mas que se você espremer bem sai um caldinho muito do gostoso)!



Viva o teatro e evoé bacchae!", rejubila-se.

Sunday, October 13, 2013

O espetáculo As Tetas de Tirésias - Vamos esbofetear Ulisses estreia no dia 17 em Curitiba - Paraná



O Estábulo de Luxo & Selvática Ações Artísticas apresentam:

"As Tetas de Tirésias - Vamos esbofetear Ulisses"

Uma peça de teatro surrealista baseada na obra de Guillaume Apollinaire é o ponto de partida para um tratado bélico. Novamente o amor, a paixão, o feminismo e a revolução. Ideologias datadas recriam o mito tebano de Tirésias. Teresa/Tirésias muda de sexo para ter poder entre os homens, alterar os costumes, acabar com o passado e estabelecer a igualdade entre os sexos.


Com: Danielle Campos, Leonarda Glück, Patricia Cipriano + artistas convidados

Concepção e Roteiro: Ricardo Nolasco
Direção: Gabriel Machado

De 17 de outubro a 3 de novembro
Quinta a sábado às 21h
Domingos às 20h
Preço sugerido: R$ 10
Lotação máxima: 15 pessoas por dia

Casa Selvática - Rua Nunes Machado, 950 - Rebouças
Reservas via estabulodeluxo@gmail.com


Nossas entranhas são tão démodés quanto o nosso penteado! 

Maiores informações clicando em Selvática Ações Artísticas 




Thursday, May 30, 2013

Com o relho no lombo de mulher

"Oh, querido meu, só te direi que o amo se me estourares o rabo até a última prega", foi a resposta que me ocorreu em meio ao estardalhaço dos metais, a produção em série dos carros, o alongamento a que o corpo masculino recorre diante da falta de trégua da natureza. Apenas em pensamento, no entanto, enquanto da parte da ação física o homem já me arrancava as roupas a dentadas e rasgações, socou-me a cara com o pênis ereto e viril, que esfregou com violência nos bicos dos seios endurecidos, acompanhou o tesão que produzia bem de perto com socos, tapas e mordidas que já faziam a existência desfibrilar. Eu pensava nas amigas feministas e na cultura do estupro durante o tempo em que era varada pela caceta animal em pleno vigor e abundância terrenos, eu dava risada entre uma contração muscular e outra, quase desfalecida da parafernalha da reprodução que queimava no meio das minhas pernas, não reconhecia borda alguma, entrava e saía à minha revelia para, ao final, cuspir a porra vital sem sinal algum de agradecimento. Tremente, pensei em fugir. Mas não poderia, aquilo se repetiria, era sina, era para o que viera, disse a que veio. Veio pro beijo socado com angústia, a mão espalmada nas nádegas brancas, firmes e frágeis, o relho no lombo de mulher. O sexo xamânico transcendental, a piada pronta, o grito de rebeldia deveria permanecer contido provisoriamente. Quando estourasse, todos saberiam o que é o amor.

Saturday, April 20, 2013

O Onipotente

Deus são as leis do universo. Deus é o cosmos se movimentando. Deus são as galáxias cheias de anéis. Deus são as estrelas ascendentes, cadentes. Deus é gás. Deus é poeira. Deus é buraco negro que a tudo engole, é piche. Deus é energia transcendental. Deus é Andrômeda. Deus é Atlântida. Deus é Pompeia, Chicago e Nagasaki. Deus é a arte, o sublime e o grotesco. Deus é Zeus. Deus é Iansã. Deus é uma nebulosa louca. Deus são as criancinhas ranhentas, a chuva torrencial, a água eterna enquanto dure, o sol subindo e descendo, o inigualável verde das plantas, o corpo em movimento, os céus azuis, vermelhos e acinzentados, as infinitas mudanças dos corpos cavernosos. Deus é a margarida, o porco espinho. Deus é a Beyoncé e a Valesca Popozuda. Deus é catar cavaco. Deus é o funk carioca. Deus é a guerra. Deus é a polícia. Deus é o amante traidor. Deus é dívida. Deus é o papel. Deus é a tinta. Deus é o sorvete de pistache. Deus são as aranhas marrons. Deus é o western spaghetti do Clint Eastwood. Deus é a Tailândia. Deus é o pastel da feira. Deus é o dinheiro. Deus é o cabelo anelado, o nariz adunco, o mamilo e o ânus rosáceos. Deus é a porra jorrando louca pra fora do pau. Deus é o suco da buceta. Deus é o meu orgasmo múltiplo. Deus é a queima da Bíblia, mas a paz, não








Deus não é a paz.

Sunday, December 30, 2012

Adeus, 2012! A vida é bela.

Eu ando pensando. Eu vivo pensando. É certo que sinto mais do que penso mas eu penso mesmo assim, um pouco agora, um pouco mais tarde, um pouco no meio. Mais um fim de ano se inicia, ou se finda mais uma possibilidade de começo de ano? Nem sei mais. Quero agradecer publicamente a tudo de bom e positivo que me aconteceu durante o glorioso ano de 2012. Conheci lugares incríveis e que começaram a me fazer falta imediatamente após o instante em que os deixei. Vivi intensidades inexplicáveis em cima de vários palcos do país mais belo do mundo. Por eles eu suei, cantei, dancei e rebolei a bundinha branca. Por eles eu disse coisas que estão além de mim e de você, falei da perenidade das coisas, falei da infinita capacidade que as coisas tem de se extinguir, de se modificar, de mofar, encontrei pessoas incríveis, talentosas, gente a quem quero passar a admirar cada vez mais pela constância, pela arte, pelo traquejo, pelo sorriso, passei por gente a quem quero deixar, silenciosamente, para trás, sem alarde, sem fanfarra, sem estardalhaço, falei da capacidade de amar, falei do amor, do meu e do amor dos outros, fui eu mesma, fui outras, fiz coisas minhas e fiz coisas que o mundo ordenou. Eu sou uma mulher feliz e realizada. Eu amo a minha profissão e eu sei amar. Fui diretora, fui atriz, fui dramaturga, tudo junto, misturado, um por cima do outro, mexendo no outro, alterando o outro, explodindo e abençoando o outro. Eu aprendi a amar. Eu aprendi a gozar, dos pequenos movimentos da pélvis à grandiosidade dos livros lidos, das mãos do homem que me segura, excitado, aos grandes arroubos de dores e delícias que a humanidade engendra, eu aprendi a ouvir as sandices terrenas e perscrutá-las, eu aprendi a ler com parcimônia as ideias mais tortuosas que alguém já inventou de pôr no papel. Eu aprendi a respeitar as promessas de amor como criança, como cão, eu aprendi a entender o coração batendo forte por se aproximar de quem ama, aprendi a acalmá-lo nos beijos, intercalados de um tempo preenchido de simplicidades diárias, às vezes tolas, às vezes inúteis, o enfadonho alimentar diário do corpo em detrimento da alma, aprendi a acender o meu fogo na boca do homem que amo, em um nono andar da cidade maior do país e aprendi a apagá-lo temporariamente quando o avião levanta seu inefável voo e molha-me no rosto das lágrimas mais tristes que uma mulher já chorou nessa terra. Eu tenho a sorte dos amigos, sorridentes e solícitos, eu tenho o pequeno azar da esquisitice dos inimigos, que olham com a pura cara da inveja que soçobra no vício, a inveja preguiçosa dos idiotas. Eu tenho a pele mais deliciosa que a criação já utilizou para recobrir o osso de alguém, a cabeça mais maluca e temperamental que tem aquelas pessoas que fazem a diferença: eu tenho certeza absoluta da diferença que fiz na vida de cada qual por quem passei, ora sorrindo, ora gritando. Eu tenho o cabelo dos gregos, dos negros, dos loucos de amor, dos curtos e grossos, daqueles que saltam do sofrimento à alegria em um piscar sapeca de olhos. Eu tenho a felicidade de amar, e querer sempre mais. Em 2013 você irá me ver, irá ouvir falar de mim, porque me ver e ouvir falar de mim é coisa que a natureza nos deu, ao mundo, a todos, e coisa pela qual devemos agradecer. E lembre-se: eu te enfeiticei e a revolução não será televisionada!

Wednesday, December 05, 2012

A retrô-futurista Valsa nº 6 curitibana chega ao centro financeiro do país!

Depois de passar pelo Rio de Janeiro, Curitiba, São Luís do Maranhão e Salvador, Bahia, a retrô-futurista Valsa nº 6 curitibana chega à capital paulista, centro financeiro do país, para as duas últimas apresentações de 2012. No Teatro do Centro da Terra nos dias 12 e 13 de dezembro, às 21 horas, Rua Piracuama, 19, no Sumaré. 



Monday, July 30, 2012

"Valsa nº 6" no evento "A Gosto de Nelson", no Rio de Janeiro!

No mês em que se comemora o centenário de nascimento do escritor recifense-carioca, morto em 1980:


"Valsa nº 6", de Nelson Rodrigues;

Direção de Gustavo Bitencourt;

Com Leonarda Glück;

Estreia Nacional dia 25 de agosto de 2012;

Teatro Glauce Rocha - Rio de Janeiro - RJ;

Expressão Produção;

Vídeo: Leco de Souza 

right after (update): Curitiba!





Friday, May 11, 2012

Por um amor de novela

Meu sapato já furou, minha roupa já rasgou, eu não tenho onde morar. O único homem a quem eu seria eternamente fiel me disse não, fidelidade é qualidade de cachorro. Eu, na minha condição intrínseca, com todos os meus problemas, traumas e limitações, amaria, amo, mais do que qualquer outra no planeta. Amo porque me disseram que isso eu não podia, não me era permitido. Amo porque é a minha natureza. Sei que não existe nada disso de amor perfeito, mas ainda pude, brevemente, sonhar. Amar, como uma garota que enlouqueceu e ficou selvagem. Amor de confiança, seja lá o que isso for, é uma vez só. Meu sapato já furou, minha roupa já rasgou, eu não tenho onde morar.