Wednesday, August 10, 2005

< CONCRETISMO VIOLÁCEO >


Acordei, e parecia que não era esse mundo.
E se a tecnologia estivesse mentindo?
Nós bem sabemos que as conexões humanas são falhas.
Falhas como alunos faltosos.
Fala-se muito pouco sobre isso.

Friday, August 05, 2005

I love Raskolnikov.


A pobreza era evidente; a cama nem sequer tinha cortinado.
Dostoiévski - 'Prestuplenie i Nakazanie'



Meu sonhos maltrapilhos.
Vou falar das impressões que uma vida deixa.
Os sonhos, esses ficam para trás.
Com eles nada se faz.
Eles não alimentam. Eles atrapalham.
Eles devem ficar para trás, com os sonhos puídos.
Começo pelo fim.
Embora o fim não deva ser analisado.
Houve um tempo em que os fins eram respeitáveis.
Mas isso foi há muito tempo: a bandeira não estava tão rota.
O sol da tarde entra raro pelas cortinas.
Me alegra saber que há azul no céu.

Abro, as cortinas.
A mãe se foi, penso.
Tento descobrir qual o tanto que ficou.

A dor ficou, mas isso não é novidade. A dor sempre fica.
Sobrou o que levo chamando de vida escassa. Pouca.
Quase insalubre.
A Aurora, quando foi? Não consigo lembrar.

Como se me enterrassem no cimento. Meu coração ainda pulsa um pouco entre o concreto. Vivendo como bobo em meio a órgãos fundidos.
Um gato me espia.
Tenho horror a autobiografia.
As vozes com quem falo não me ouvem.
Na rua, os carros, eu pasmo, ainda passam.
A tarde me machuca.
Me machuca.
Me machuca os restos mortais.
Assim resvalo para a pieguice.
Ainda procuro do que rir.
Já não existe risada genuína. Eu já vi tudo.
O que há para ver?
Engraçadas, as vidas que se acabam antes de começar...
O que pensavam os reis do mundo?
Que o dinheiro salvaria?
Que o dinheiro guiaria nós sabíamos.
Os encontros de amor, bíblias aposentadas.
Cadafalsos inapropriados.
Se eu me repito, é porque só restou renitência.
Ainda posso rever os bons momentos.
Ainda prevejo o destino.
Ainda burlo a verdade.