Thursday, July 15, 2010

Alfa Beta Gama Letra









No reto a gostosa lembrança do escuro, vácuo existencial em ampliada plenitude
O submundo algodoado do calor que não cessa
O último grasnido do tango argentino incólume ainda na ponta dos ouvidos, a nota derradeira e intensa
A terceirização dos afetos primevos em tempos de liberdade tecnológica extrema.

No cais do porto eu me despeço do último marinheiro estrangeiro: a gravata rasgada, os sonhos de uma família dilacerados na negra tinta da tatuagem dolorida, na carne fincada feito faca forte eu me despeço.
O abraço das adúlteras chorosas pela numerosa possibilidade do amor reconstituído, cristalizado na esfera do incognoscível desejo de sonhar eternamente com algures vindouros
Te dou a sopa, te aqueço a alma fraca e te lanço pragas sutis de cozinha
Lavo a roupa, amo a decadência da mãe-pai, como a comida ressecada dos anos
E é nessa pequena notoriedade local que encontro em mim a boca que realmente quer falar sem freios, sem pejo nem maneirismos barrocos
É do amor e da guerra meu coração feito, meus sonhos arruinados e minha prole alimentada. Cedo a massa fraca que empacota meus ossos ao futuro interconectado, às prisões virtuais de quem conferiu poder à preguiça terrena e ainda assim sentiu prazer na ponta dos dedos, na ponta da língua de outrem
Sorvo cada gota dessa vida que sai de mim, que começa e termina em mim em ato único, no doce buraco fértil de terra branca que ponho à prova
Que em mim ocupa o lugar dos deuses e mitos de uma geração envenenada pela eletricidade defasada
Serei a gloriosa mãe dos teus filhos fracos.