A elasticidade de meu corpo sempre me intrigou. A que velocidade era submetido para ainda manter-se em pé. A tortuosa mente jamais havia reclamado. Por isso eu o punha à prova, para testar seus (meus?) limites.
Um corpo é apenas um corpo, afinal de contas. Resistente embora facilmente dilacerável. Foi o que imaginei, descartando qualquer possibilidade de budismo como inválida para mim. Evidenciar meus problemas de visibilidade, alteridade e identidade tornou-se, mesmo sem prévia intenção, minha desabalada busca.
Meu corpo é minha obra-prima. Nele estão grafados os parágrafos mais consistentes e densos que já pude escrever. As estrofes mais diametralmente corretas e correspondentes jorram de minhas claras carnes como leite materno rumo à primeira alimentação humana.
As extensões desse corpo, em contato com o mundo, geram em mim a necessidade veemente do contato, da razão primeva de tê-lo exposto e observado. Não se trata de uma escolha intransferível minha. Todas as minhas células imploram pelo compartilhamento sagrado da minha experiência corporal com o meio em que estou inserida.
Cada modificação, cada ausência, cada vertente desrespeitada do meu sangue precisam respirar ar puro. Precisam dos olhos do outro. Cada corte na minha carne feito, cada enxerto, bordas antigas e bordas novas, cada gordura retirada, sebo, artéria, nervo, pele, cada desejo refeito, reelaborado, reinventado, cada ficção, cada pedaço do que sou e do que junto para me formar, das perdas e dos danos, dos ganhos e das trapaças da natureza eu dou à luz para julgar.
Eu combato esse corpo que eu amo. Eu preciso dele em dissonância com todo o resto de mim. É só assim que consigo me separar dele e ser eu mesma. É somente dessa maneira que sou eu mesma, que perfaço no mundo o caminho que somente a mim me foi destinado. Eu não concordo com todas as posturas que esse corpo assume nem com todos os detalhes nele impostos. Não conheço todos os líquidos que dele vazam, não comando o delírio que o faz tremer.
Não sou responsável pelo que esse corpo provoca. Não tomo conhecimento do que me vai por dentro. Eu somente experimento.
Esse é o corpo que cultivo. Que mantenho. Que alimento e faço crescer. É o corpo que rasgo e defloro quando quero. Que satisfaço, que venero. É o corpo que tive que ocupar e o corpo pelo qual sou grata. É o corpo que me faz gozar e faz gozar ao mundo. Eu assumo esse corpo por não ter outro. Assumo porque se tivesse outro, o assumiria e o recusaria também.
Eu refaço minha natureza à minha maneira. E não era isso o que queria a natureza? Apresento ao mundo todos os meus pedaços como meus, embora sejam nossos.
Um corpo é apenas um corpo, afinal de contas. Resistente embora facilmente dilacerável. Foi o que imaginei, descartando qualquer possibilidade de budismo como inválida para mim. Evidenciar meus problemas de visibilidade, alteridade e identidade tornou-se, mesmo sem prévia intenção, minha desabalada busca.
Meu corpo é minha obra-prima. Nele estão grafados os parágrafos mais consistentes e densos que já pude escrever. As estrofes mais diametralmente corretas e correspondentes jorram de minhas claras carnes como leite materno rumo à primeira alimentação humana.
As extensões desse corpo, em contato com o mundo, geram em mim a necessidade veemente do contato, da razão primeva de tê-lo exposto e observado. Não se trata de uma escolha intransferível minha. Todas as minhas células imploram pelo compartilhamento sagrado da minha experiência corporal com o meio em que estou inserida.
Cada modificação, cada ausência, cada vertente desrespeitada do meu sangue precisam respirar ar puro. Precisam dos olhos do outro. Cada corte na minha carne feito, cada enxerto, bordas antigas e bordas novas, cada gordura retirada, sebo, artéria, nervo, pele, cada desejo refeito, reelaborado, reinventado, cada ficção, cada pedaço do que sou e do que junto para me formar, das perdas e dos danos, dos ganhos e das trapaças da natureza eu dou à luz para julgar.
Eu combato esse corpo que eu amo. Eu preciso dele em dissonância com todo o resto de mim. É só assim que consigo me separar dele e ser eu mesma. É somente dessa maneira que sou eu mesma, que perfaço no mundo o caminho que somente a mim me foi destinado. Eu não concordo com todas as posturas que esse corpo assume nem com todos os detalhes nele impostos. Não conheço todos os líquidos que dele vazam, não comando o delírio que o faz tremer.
Não sou responsável pelo que esse corpo provoca. Não tomo conhecimento do que me vai por dentro. Eu somente experimento.
Esse é o corpo que cultivo. Que mantenho. Que alimento e faço crescer. É o corpo que rasgo e defloro quando quero. Que satisfaço, que venero. É o corpo que tive que ocupar e o corpo pelo qual sou grata. É o corpo que me faz gozar e faz gozar ao mundo. Eu assumo esse corpo por não ter outro. Assumo porque se tivesse outro, o assumiria e o recusaria também.
Eu refaço minha natureza à minha maneira. E não era isso o que queria a natureza? Apresento ao mundo todos os meus pedaços como meus, embora sejam nossos.
1 comment:
são os pedaços do bode
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