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Eu ando pensando. Eu vivo pensando. É certo que sinto mais do que penso mas eu penso mesmo assim, um pouco agora, um pouco mais tarde, um pouco no meio. Mais um fim de ano se inicia, ou se finda mais uma possibilidade de começo de ano? Nem sei mais. Quero agradecer publicamente a tudo de bom e positivo que me aconteceu durante o glorioso ano de 2012. Conheci lugares incríveis e que começaram a me fazer falta imediatamente após o instante em que os deixei. Vivi intensidades inexplicáveis em cima de vários palcos do país mais belo do mundo. Por eles eu suei, cantei, dancei e rebolei a bundinha branca. Por eles eu disse coisas que estão além de mim e de você, falei da perenidade das coisas, falei da infinita capacidade que as coisas tem de se extinguir, de se modificar, de mofar, encontrei pessoas incríveis, talentosas, gente a quem quero passar a admirar cada vez mais pela constância, pela arte, pelo traquejo, pelo sorriso, passei por gente a quem quero deixar, silenciosamente, para trás, sem alarde, sem fanfarra, sem estardalhaço, falei da capacidade de amar, falei do amor, do meu e do amor dos outros, fui eu mesma, fui outras, fiz coisas minhas e fiz coisas que o mundo ordenou. Eu sou uma mulher feliz e realizada. Eu amo a minha profissão e eu sei amar. Fui diretora, fui atriz, fui dramaturga, tudo junto, misturado, um por cima do outro, mexendo no outro, alterando o outro, explodindo e abençoando o outro. Eu aprendi a amar. Eu aprendi a gozar, dos pequenos movimentos da pélvis à grandiosidade dos livros lidos, das mãos do homem que me segura, excitado, aos grandes arroubos de dores e delícias que a humanidade engendra, eu aprendi a ouvir as sandices terrenas e perscrutá-las, eu aprendi a ler com parcimônia as ideias mais tortuosas que alguém já inventou de pôr no papel. Eu aprendi a respeitar as promessas de amor como criança, como cão, eu aprendi a entender o coração batendo forte por se aproximar de quem ama, aprendi a acalmá-lo nos beijos, intercalados de um tempo preenchido de simplicidades diárias, às vezes tolas, às vezes inúteis, o enfadonho alimentar diário do corpo em detrimento da alma, aprendi a acender o meu fogo na boca do homem que amo, em um nono andar da cidade maior do país e aprendi a apagá-lo temporariamente quando o avião levanta seu inefável voo e molha-me no rosto das lágrimas mais tristes que uma mulher já chorou nessa terra. Eu tenho a sorte dos amigos, sorridentes e solícitos, eu tenho o pequeno azar da esquisitice dos inimigos, que olham com a pura cara da inveja que soçobra no vício, a inveja preguiçosa dos idiotas. Eu tenho a pele mais deliciosa que a criação já utilizou para recobrir o osso de alguém, a cabeça mais maluca e temperamental que tem aquelas pessoas que fazem a diferença: eu tenho certeza absoluta da diferença que fiz na vida de cada qual por quem passei, ora sorrindo, ora gritando. Eu tenho o cabelo dos gregos, dos negros, dos loucos de amor, dos curtos e grossos, daqueles que saltam do sofrimento à alegria em um piscar sapeca de olhos. Eu tenho a felicidade de amar, e querer sempre mais. Em 2013 você irá me ver, irá ouvir falar de mim, porque me ver e ouvir falar de mim é coisa que a natureza nos deu, ao mundo, a todos, e coisa pela qual devemos agradecer. E lembre-se: eu te enfeiticei e a revolução não será televisionada!
Depois de passar pelo Rio de Janeiro, Curitiba, São Luís do Maranhão e Salvador, Bahia, a retrô-futurista Valsa nº 6 curitibana chega à capital paulista, centro financeiro do país, para as duas últimas apresentações de 2012. No Teatro do Centro da Terra nos dias 12 e 13 de dezembro, às 21 horas, Rua Piracuama, 19, no Sumaré.