Tuesday, January 18, 2011

Marafonaria Service Room Capítolo Um


Ela pensa em dinamite. Pensa no extremo oriente. Em dois únicos cogumelos explosivos o norte e o sul, como lhe havia dito uma vez o avô desdentado: dentes de quem picota couve. Ordena ao professor que se retire, não há ali espaço para mais nenhuma explicação. O exercício acabara, toda a filosofia aflita acabara. Sim, a cueca está arreada. Por um canto a cabeça do pau mole que escapa. Contínuo, o pau da moça é róseo e combina em gradientes de cor com todas as suas mucosas corporais. Provocam encanto, fascínio, atenção redobrada e tensão. Um tapa havia estalado ali perto, na dobra mortiça, folha dourada mortuária em encantos de Morfeu. Mas ela havia se queixado da cansativa argumentação falha e espúria, porém espirituosa, coisa de quem manda, coisa de quem obedece, classes em luta e tudo o mais, o verde oliva de uns olhinhos miúdos repuxados nos cantos pela pouca idade emocional do pai que já envereda pelo ridículo. De dentro do kocsi, um dia, ali, naquela casinha de porta e muro brancos, eu serei feliz, havia dito o professor malandro, malemolente, rebolativo e um pouco bicha demais, apesar de sexualmente fluente. A rapariga, batizada pela amiga portuguesa sem bigodes, ficou sem graça, fugiu do assunto, mordeu a isca, mentiu a fita, pediu a dica e arriscou: “um dia eu já fui, sabia? espalhafatosa como eu, sempre à beira de uma certa marafonaria avançada, quase congênita e, apesar de censurada, censurável, reprimida e adorada e confundida, fui amada, sim. Em qualquer canto aí desses dos quatro do mundo, eu fui amada.” Ele não devolveu a atenção. Pagou e já estava pensando na esposa em casa, com quem tanto brigava, nas malandrices das namoradas criminosas de seu passado ingrato. Não ouvia mais sua voz, seu corpo. Pensativo e resfolegante, divertia-se com as entrelinhas burlescas da discussão sem volta. Em algum recôndito ardido de sua memória podia ouvir-se, lenta e pausadamente: “nós somos o encontro de duas tristezas”, acendeu um cigarro e fumou, como se fumando apagasse o próprio filho que cresceria sem orgulho de um pai-mãe tão repetitivo em seu papel social.