As delícias que eu tive de você não entraram só na carne, meu amor.
Foi mais fundo: foi mais forte.
Eu não tenho culpa se meu corpo, como ele é apresentado ao mundo, não preenche todos os requisitos para o teu tesão.
Os meus buracos são sinceros mesmo assim.
O que eu poderia alegar em minha defesa são os argumentos do meu gênero:
Tenho que me resignar ao destino?
Tenho que me resignar à biologia tortuosa que em mim perdura?
Tenho que me adequar ao aceitável desejo de ser mulher honrosa e reprodutora?
Onde ficam as impressões sensíveis, ou a criação, a partir delas, dos sinais que constroem a linguagem?
As palavras não podem conter tudo.
Imagens e simulacros são meu desejo de ser compreendida.
E amada.
Assim como a tua lembrança - infinita - que me habita corpo, coração e mente.