Será estar preso dentro da máquina uma coerção tão inexpugnável assim? Guardar a memória das operações de corte e exclusão é a única base sócio-cultural a que devemos estar intimamente ligados para poder desenvolver o que nossa falha natureza tentou nos legar? Digo tentou e digo falha porque veio com ela o intuito da mudança, do movimento, irrefreável e sequioso.
Trago em mim um gênero modificado e modificante. Um sexo inerentemente mutante. Gosto de ser composta pelos olhos e insuflada pela mente. Não admito o fardo, a demente incumbência da perpetuação da espécie.
Tudo aquilo que é, ou pretende ser, perpétuo deve ser banido.
Não há no mundo espaço suficiente e humano para todos os que se deixam nascer. Não percebo nos ossos nem na carne a fecundidade com a qual supostamente deveria alimentar a insânia crescente da terra. Renego as imposições do meu próprio corpo e mostro-lhe saída alternativa, escolhida pela parte de mim que melhor soube fazer uso da sociedade delirante do capital.
Consigo ver beleza em me refazer minuciosamente a mim e ao meu contexto, modifico meus artigos, meus pronomes para dizer ao mundo que gêneros há tantos quanto há seres humanos. Consigo pensar em me desprender do padrão-base, mesmo que apenas momentaneamente, para possibilitar mais de uma visão sobre mim mesma.
Não me desfiz da masculinidade com a qual nasci. Não me desfiz de nada. Somente não desfigurei minha predominância em favor da abjeção que porventura posso provocar. Imagino que se fosse fêmea inata não teria comigo todo o meu poder de reavaliação, reestruturação, mudança, reinvenção e Revolução.
Meu sangue, mórbida impregnação da história, continua o mesmo. E da mesma cor.
Minha mente adapta-se ao novo. Meu corpo submeteu-se a voluntárias redefinições e involuntários tratamentos.
Meu sexo sempre foi o feminino, que, em alguns dos desajustados compassos da frágil biologia perdeu algumas características e ganhou outras, inefáveis e prezadas.
Não há como não se evidenciar o transtorno, que não reside unicamente na casa da identidade, mas sim no cérebro, descontente com suas terminações nervosas.
Ignara é a sociedade que prende seu membro em seu sexo, como única forma válida e respeitável de exercício do seu desenvolvimento.
Ignaro é o membro que se deixa prender entre as pernas para facilitar o encaixe, o que se deixa arrancar pela desnecessidade da adjacência, o que se deixa balançar com desenvoltura e aquele que somente inexiste.
Eu não sou apenas meu sexo. Minha sexualidade não deve constar de nenhuma biografia como fator determinante. O sexo que faço diz respeito a mim e àqueles que o experimentam.
O gênero que exerço é o humano. O desfalcadamente humano. O pobremente humano, pois que a humanidade não se cansa de perpetrar-se a si mesma entre as intempéries solícitas do destino.
Trago em mim um gênero modificado e modificante. Um sexo inerentemente mutante. Gosto de ser composta pelos olhos e insuflada pela mente. Não admito o fardo, a demente incumbência da perpetuação da espécie.
Tudo aquilo que é, ou pretende ser, perpétuo deve ser banido.
Não há no mundo espaço suficiente e humano para todos os que se deixam nascer. Não percebo nos ossos nem na carne a fecundidade com a qual supostamente deveria alimentar a insânia crescente da terra. Renego as imposições do meu próprio corpo e mostro-lhe saída alternativa, escolhida pela parte de mim que melhor soube fazer uso da sociedade delirante do capital.
Consigo ver beleza em me refazer minuciosamente a mim e ao meu contexto, modifico meus artigos, meus pronomes para dizer ao mundo que gêneros há tantos quanto há seres humanos. Consigo pensar em me desprender do padrão-base, mesmo que apenas momentaneamente, para possibilitar mais de uma visão sobre mim mesma.
Não me desfiz da masculinidade com a qual nasci. Não me desfiz de nada. Somente não desfigurei minha predominância em favor da abjeção que porventura posso provocar. Imagino que se fosse fêmea inata não teria comigo todo o meu poder de reavaliação, reestruturação, mudança, reinvenção e Revolução.
Meu sangue, mórbida impregnação da história, continua o mesmo. E da mesma cor.
Minha mente adapta-se ao novo. Meu corpo submeteu-se a voluntárias redefinições e involuntários tratamentos.
Meu sexo sempre foi o feminino, que, em alguns dos desajustados compassos da frágil biologia perdeu algumas características e ganhou outras, inefáveis e prezadas.
Não há como não se evidenciar o transtorno, que não reside unicamente na casa da identidade, mas sim no cérebro, descontente com suas terminações nervosas.
Ignara é a sociedade que prende seu membro em seu sexo, como única forma válida e respeitável de exercício do seu desenvolvimento.
Ignaro é o membro que se deixa prender entre as pernas para facilitar o encaixe, o que se deixa arrancar pela desnecessidade da adjacência, o que se deixa balançar com desenvoltura e aquele que somente inexiste.
Eu não sou apenas meu sexo. Minha sexualidade não deve constar de nenhuma biografia como fator determinante. O sexo que faço diz respeito a mim e àqueles que o experimentam.
O gênero que exerço é o humano. O desfalcadamente humano. O pobremente humano, pois que a humanidade não se cansa de perpetrar-se a si mesma entre as intempéries solícitas do destino.
Meu gênero é o que te apresento no momento, e — ADVIRTO — ele pode, a qualquer instante, mudar.