Marcada do meu próprio e irritante sangue, eu passo a odiar meus ossos.
Viver em meu corpo extrínseco de ladra estranha me gasta.
Viúva da minha própria e putrefata carne, não suporto a minha superfície.
Estou amando.
Estou amando mais.
Estou a mando teu.
Para onde meus olhos vão eu vejo minha brilhante e futura vida pagã gravada a fogo nas claras costas que Deus me deu.
Deus me odiou desde o início.
Me apontou o dedo torto e velho e disse: "Vai. Desgraça-te."
E cá estou. Bêbeda como uma condenada. O sexo úmido e desejoso dos longos dedos de quem me condena.
Pedindo a surra dos justos e a porra clássica de quem é feliz por gozar num buraco novo.
No sorteio da vida não pedi para vir intensa. Para vir vadia. Para vir certeira. Para distribuir confusão.
Na boca seca o sangue da noite mal dormida. Nos braços, o roxo, a cor preferida.
No coração a lembrança do que poderia ter sido.
A vista turva e cansada de quem na vida só busca amor.
Lúcido, louco, como for.
Mas que não resista jamais à simples idéia de não ser eterno.
Esboço de análise semiótica de "Sem Anestesia", de Rogério Skylab
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“Ai!”, grita o sujeito, que cumpre também a função de interlocutor no
impasse entre estesia e anestesia que o texto “Sem anestesia” empreende. Um
int...
4 years ago