Wednesday, December 27, 2006

Friday, November 24, 2006

Saturday, November 04, 2006

Wednesday, October 18, 2006

Simone de Beauvoir apagou minhas virtudes

Quero fazer uma breve pausa na minha história até aqui e tentar dizer um pouco mais lúcida e coerentemente de mim. Sem subterfúgios. Não muitos, pelo menos. Cheguei a um certo ponto. Sem volta. E me ocorre que, daqui por diante, talvez o que eu realmente precise seja de mais oportunidades. Oportunidades para mostrar às pessoas como eu sou, de fato. Para dizer a elas as coisas como eu verdadeiramente as penso e vejo. De falar como eu funciono, das maravilhas e das agruras que eu trago em mim. De indicar, mais e mais, nem que através de desenhos ou pantomimas, como as pessoas me tocarem. Oportunidades, também, de perceber se posso contar com alguma reciprocidade; se as pessoas podem se mostrar como elas são, dizer o que pensam sem nenhuma distração de percurso. Tem sido tão difícil encontrar um percurso sem distração alguma. Não é que as máscaras me incomodem: de uma maneira ou de outra você acaba se acostumando. Acontece que sinto uma premência de naturalidade, em sua mais estrita e plena acepção.
Como escrever sobre isso sem passar pelas decepções? Pelos (maus) estereótipos, pelos clichês, pelos recalques? Quem não se decepciona? É ponto pacífico, então ao menos aí eu acredito que posso minimamente me fazer entender. Ultimamente tenho pensado nas inúmeras, variadas (variantes?) e inextricáveis decepções, brotando, como sufocantes e indecentemente verdes trepadeiras, de todos os lados, de onde menos eu esperaria. Eu gosto da solidão, mas nem por isso ela deixa de me apavorar.
Tenho muitas dificuldades em proceder com alguns casos de decepção. Tenho ódio, vergonha, espuma nos lábios, amor. Acredito veementemente em que só nos decepcionamos com alguém por quem sentimos algo mais profundo. Algo como o amor. Possivelmente maior como o amor. Só agora vejo que elevei alto demais o meu preço nesse mercado (para mim mesma). Por isso a decepção. Ninguém é obrigado a topar um preço tão alto e aqueles que se arriscam (arriscaram) sempre sabem como me dizer isso. Obviamente, eu sempre sei como não entender. Sempre sei como me autoembotar perfeitamente. Assumo a culpa. Mea. Toda mea.
Talvez todo o complexo, a fleuma, a glacial e calculada frieza, a persona inventada (e assumida), a franqueza excessiva, o sarcasmo cínico (quem sabe cinismo sarcástico?) somente escondam o pequeno vulcão em vias de realização: a lava preparada. Talvez venha mais amor por aí. Mais entendimento, sabedoria, compreensão, clareza (quem não quer ser entendido, aceito e amado? Atire a primeira pedra!), já que parece, ao que tudo indica, que nunca julguei orgulho e superioridade como coisas ruins. Talvez venha, com mais vontade de aparecer e de se mostrar do que nunca, a fragilidade, sempre adstrita a uma inexpugnável e invisível bolha. Eu estou mudando. Estou em busca de uma possível essência. Minha, só minha. Provavelmente a idade, a saudade (às vezes fico ridícula e melancolicamente nostálgica), os hormônios, a vista cansada, pisada e repisada.
Dizem que os poetas escrevem melhor quando estão torturados. Não há o que se escrever sobre o paraíso perfeito, só há o que se aproveitar. Um dia aprenderei o perdão. Sempre pensei que não cabia a mim dá-lo mas sempre o tive quando precisei. Aprenderei o arrependimento e como não ferir “muito” aos outros e a mim. Aprenderei e apreenderei a baixar a cabeça e dizer “eu errei, me perdoe” mesmo que isso me custe todas as artérias do corpo. Espero não demorar muito, espero poder contar com o apoio dos que me são caros. Espero saber bem me reinventar. Espero. Eu, logo eu, cuja ânsia de inserção no mundo só faz crescer e se reproduzir. Eu, que devo parar de pensar na quantidade e me concentrar na qualidade. Eu, que procuro incertamente. Eu, não tão louca quanto pareço. Eu, para mim sem preço.
Catástrofe e caos cada vez mais instaurados, mesmo que às vezes seja mais cômodo e mais confortável (e eu sei bem disso) ficar do lado dos vencidos, corroborando todos os mitos da vítima, ainda me é permitido reclamar mais um pouco. Eu me permito. Reclamar do afeto pouco, da consideração pouca, do amor pouco, de uma determinada atenção pouca. Tudo bem, a gente se acostuma. Postula. Perde. E muito pouco ganha. Meu objetivo agora é esticar esse pouco em muito e deixar de ser burra. Alguns amigos do coração, outros da mente, outros de outras partes. Uma família merecida. Uma mãe incrível, única, distante, amada. Um amor inexistente. Uma vida deliciosamente dilacerante.

Léo Glück



“Da baixa prostituição à grande hetaira, há numerosos degraus. A diferença essencial consiste em que a primeira negocia com sua pura generalidade, de modo que a concorrência a mantém num nível de vida miserável, ao passo que a segunda se esforça por se fazer reconhecer em sua singularidade: vencendo, pode aspirar a um grande destino. A beleza, o encanto, o sex-appeal são necessários, mas não bastam: é preciso que a mulher seja distinguida pela opinião. É a “estrela” a última encarnação da hetaira.
Houve sempre entre a prostituição e a arte uma passagem incerta, em virtude de se associarem de maneira equívoca a beleza e a volúpia; na verdade não é a Beleza que engendra o desejo; mas a teoria platônica do amor propõe hipócritas justificações para a lubricidade. Frinéia desnudando o seio oferece ao areópago a contemplação de uma idéia pura. A exibição de um corpo sem véu torna-se um espetáculo de arte; os “burlescos” americanos fizeram um drama ao despir-se. O “nu é casto”, afirmam os velhos que, sob a denominação de “nus artísticos”, colecionam fotografias obscenas. No bordel, o momento da “escolha” já é uma parada; ao complicar-se, têm-se os “quadros vivos”, as “poses artísticas” que se oferecem aos fregueses. A prostituta que aspira a adquirir um valor singular não se limita mais a mostrar passivamente a carne; esforça-se por mostrar talentos particulares. As “tocadoras de flauta” gregas encantavam os homens com sua música e suas danças. As Uled-Nail executam a dança do ventre, as espanholas que dançam e cantam no Barrio-Chino não fazem senão oferecer-se de maneira requintada à escolha do apreciador. É para achar “protetores” que Nana sobe ao palco. Certos music-halls, como outrora certos cafés-concerto, não passam de bordéis. Todos os ofícios em que a mulher se exibe podem ser utilizados para fins galantes. Há, sem dúvida, girls, taxi-girls, dançarinas nuas e outras, pin-ups, manequins, cantoras, que não permitem que sua vida erótica se imiscua em seu trabalho; quanto mais este implique em técnicas, invenção, mais poderá ser considerado como um fim em si; mas, freqüentemente, uma mulher que se apresenta em público para ganhar a vida é tentada a comerciar com seus encantos. Inversamente, a cortesã deseja um ofício que lhe sirva de alibi. Raras responderiam a um amigo que as chamasse “Cara artista”: “Artistas? Realmente meus amantes são muito indiscretos”.
Empregarei a palavra hetaira para designar todas as mulheres que tratam, não do corpo somente, mas também de sua pessoa como um capital a ser explorado. Sua atitude é a de oferecer-se aos sufrágios de seus admiradores, não renegar sua feminilidade passiva que a destina ao homem: dota-a de um poder mágico que lhe permite pegar os homens na armadilha de sua presença e deles alimentar-se; arrasta-os consigo em sua imanência.
As mulheres mais livres da Antiguidade grega não eram nem as matronas nem as baixas prostitutas: eram as hetairas. As cortesãs do Renascimento, as gueixas japonesas gozam de uma liberdade infinitamente maior do que suas contemporâneas. Paradoxalmente, essas mulheres que exploram ao extremo sua feminilidade criam para si uma situação quase equivalente à de um homem; partindo desse sexo que as entrega aos homens como objeto, reencontram-se como sujeitos. É na hetaira que os mitos masculinos encontram sua mais sedutora encarnação; ela é, mais do que qualquer outra, carne e consciência, ídolo, inspiradora, musa; pintores e escultores querem-na como modelo; ela alimenta os sonhos dos poetas; é nela que o intelectual explora os tesouros da “intuição” feminina; ela é mais facilmente inteligente do que a matrona, menos afetada na hipocrisia. Emergindo no mundo como sujeitos soberanos, escrevem versos ou prosa, pintam, compõem. Assim, Impéria se tornou célebre entre as cortesãs italianas. Pode acontecer também que, utilizando o homem como instrumento, ela exerça funções viris por intermédio dele: as “grandes favoritas” participaram do governo do mundo através de seus poderosos amantes.
Nenhum homem é definitivamente seu senhor. Mas elas têm a mais urgente necessidade do homem. A própria estrela, privada de apoio masculino, vê dissipar-se o seu prestígio: abandonada por Orson Welles, foi com um ar doentio de órfã que Rita Hayworth deambulou pela Europa antes de encontrar Ali Khan. A mais bela de todas nunca tem certeza do dia seguinte, porque suas armas são mágicas e a magia é caprichosa; a beleza é uma preocupação, um tesouro frágil; a hetaira depende estreitamente de seu corpo que o tempo impiedosamente degrada.
Mas, em conjunto, a atitude da hetaira tem analogias com a do aventureiro; como este, ela se encontra muitas vezes a meio caminho entre a seriedade e a aventura propriamente dita, ela visa a valores feitos, convencionais: dinheiro, glória; mas dá ao fato de os conquistar tanta importância quanto a própria posse; e, finalmente, o valor supremo a seus olhos é seu êxito subjetivo. Justifica, ela também, esse individualismo por um niilismo mais ou menos sistemático, mas vivido com tanto maior convicção quanto é hostil aos homens e vê inimigas nas outras mulheres. Se é bastante inteligente para sentir a necessidade de uma justificação moral, invocará um nietzscheísmo mais ou menos bem assimilado; afirmará o direito do ser de elite sobre o vulgar. Sua pessoa apresenta-se-lhe como um tesouro cuja simples existência é um dom; de modo que, consagrando-se a si mesma, pretenderá servir a coletividade. O destino da mulher devotada ao homem é marcado pelo amor: a que explora o homem assenta no culto que rende a si mesma. Se atribui tanta importância a sua glória, não é somente por interesse econômico: procura nisso a apoteose de seu narcisismo.”

Simone de Beauvoir, em O Segundo Sexo - 2. A Experiência Vivida.

Saturday, August 26, 2006

A FORNICADORA


parte I




Me masturbo muito todos os dias. Até ficar inundada de suor e incapaz de continuar por causa do cansaço. Ardo e aceito quem queira me acalmar. Não procuro um indivíduo, e sim um homem.
Quero ser uma coisa de carne sobre a qual outro pode dominar: é a minha idéia de iniciativa. Estranha submissão através da qual quem domina sou eu.
Trata-se do poder da comunicabilidade. Através dos genitais que, para quem imaginava coisa diferente, podem sim expressar-se sozinhos. E muito bem. Não é só instintivo nem só animal nem só necessidade nem só pecado. É Arte. Gozar gostoso é uma arte. Na Índia os maridos transam com os amigos na sala enquanto as mulheres, solícitas, na cozinha, preparam o chá. Quem ousaria dizer que são ingênuas? Puro legado cultural. Pura Arte.
Farei uso de mim mesma como exemplo determinante. Meu nome é Diana, aquela do açúcar, mesmo que referência tardia. Sempre adorei as coisas do campo, principalmente quando se trata de vaqueiros ou peões. Na última temporada de férias, fui passar um tempo na fazenda de um tio meu, que, por ser muito rico, possui muitos funcionários em sua propriedade de longo alcance.
Desta vez eu não perdi muito tempo.
Selecionei (uma audição qualquer da vida) três de seus melhores cowboys e fomos direto para um descampado que havia ali por perto. Como eles sabiam da minha intenção, já colocaram as picas para fora e eu, safadinha e boa de boquete como sou, delas enchi minha boca. Eu era uma potranca no cio e aqueles cacetes estavam, até então, matando minha vontade de dar uma mamadinha.
O vocabulário dos homens inspira-se no vocabulário militar: o amante tem o ímpeto do soldado, seu sexo retesa-se como um arco, quando ejacula “descarrega”, é uma metralhadora, um canhão; fala de ataque, de assalto, de vitória. Há em seu ato sexual um sabor de heroísmo.
O olhar é perigo; as mãos são também uma ameaça. Fiquei de quatro (uma posição que eles conheciam muito bem) e o mais espertinho deles, o Mike, vivisseccionista do amor, cumpriu direitinho seu papel: foi logo abaixando minha calça e metendo ferro na minha ardente bucetinha. ‘Ocultação de cadáver’, me ocorria. “Está na hora do bezerro mamar!”, me disse um, sem me dar tempo de desenvolver o envilecido pensamento, enquanto o Mike se deitou pedindo para que eu cavalgasse nele. Os outros, minhas interfaces, ficaram na minha frente, com seus mastros empinados em direção do meu rosto, e eu, nada bobinha, abocanhei-os com muita volúpia; o Billy pediu para que o Mike parasse um pouco e o deixasse se divertir também. Daí virou minha bunda em sua direção e atolou seu caralho em minha xaninha paramétrica e sucosa: confesso que, dos três, a piroca do Billy é a mais sarada e que quando senti aquela tora me arregaçando pensei que não iria agüentar, que iria sucumbir. Depois foi a vez do Bred me foder inteira. Incluindo a íngreme entrada de meu coccigiano e algodoado rabo, já cansado e sem “nervo frênico”. Ele estava tão eufórico que pensei que iria broxar na hora da fodeção, mas que nada: mostrou ser um grande metelão comendo xota e cu largos, violáceos e alforriados como nenhum outro. Me pediu um sorrateiro fio-terra e eu, acabrunhada açambarcada, cedi. Enquanto o dedo não parava, aproveitei e engoli bolas e todo o resto. Ele parecia aprovar com as mais loucas caretas que o sexo imprime em nossa cara. De pau.
O cu dele era bem cheiroso!
Senti um prazer ao ser penetrada daquele jeito e não resisti. Soltei um longo gemido seguido de um delicioso gozo. Eu estava saciada mas eles ainda tinham muito o que me dar.
Comecei a chupá-los com muito frenesi, pois queria que derramassem todo o leitinho que haviam segurado para o ‘Gran Finale’. Foi bom dar uma puxadinha de saco, pois assim que eu voltar, nas próximas férias, terei certeza de que meus três machos estarão em ponto de bala me esperando.
Depois de ter recebido meu merecido banho lactante (ou será lactente?), nem sequer nos limpamos e retornamos para a casa. Cheirando a sardinha embebida em óleo. Meu querido titio perguntou se eles haviam me tratado bem, ri e disse que eles haviam sido maravilhosos e muito atenciosos anfitriões. E muito orgânicos também.
MAS VOCÊ TEM QUE TOMAR CUIDADO SIM
SIM SIM SIM SIM
BOCETA SUJA EU DIGO A ELA ESTE É MEU HOMEM
ME FODE VEM DOCINHO
Um membro nu em cada calça olha a minha carne laqueada: amar alguém não basta para apagar seus defeitos. Por isso ressinto-me da natureza por não ter sido talhada para o amor. Uma amiga sempre me repete que o que eles querem é “comer esse teu cuzão”. Não me ofendo, talvez seja sina. Talvez mito. Talvez uma grande história de amor que eu não soube perceber. Amor com o meu próprio corpo defasado e intrínseco. Um real amor de perdição. Talvez eterna parceira do crime. Talvez carimbada na fronte pelo pecado. Talvez desejo, talvez bonde. De qualquer forma, sinto-me reflorestada.

Wednesday, August 02, 2006

Ismália Relambida


Tenho sede de iluminação
Não posso mais viver terrenamente
Erros históricos me perseguem
O corpo no mar, a alma no céu
Meus pés sujos eu não os limpo
Me perdi nos piores meandros da natureza
AINDA não amo meus inimigos
INTOCÁVEL pelo desejo ainda não sou
Não vejo somente escuridão mas raramente vislumbro a luz
Todo dia a mesma crucificação
O coração humano é uma grande esperança perdida
Meu esquadrão de resgate está exausto.

Thursday, July 13, 2006

O PREPÚCIO DE CRISTO


sinto espuma
precisamos satisfazer-nos com o senhor
SURRAR DEUS
as feras e os leopardos em sangria santa
A BESTA
"pedro lauro quer cassinos", penso
és tu, que vens, és tu, que vês
dobro-te pelo meio, vergo-te
a tua fronte eu vergasto
gasto minha buceta no teu pau;

Tuesday, June 27, 2006

Incisura na Crítica


Acabo de ler o malfadado livro Desconstruir Duchamp: Arte Na Hora Da Revisão, do também malfadado teórico Affonso Romano de Sant’Anna (percebam que o erro na vida do sujeito começa pelo nome).
É óbvio que eu ri muito. Do simples fato de imaginar que uma pessoa se ponha, ainda hoje, em um mundo tão globalizado, a jogar tanto vocabulário e papel fora. Um ou outro artigo do livro é compreensível, admito. Porque é compreensível que a arte contemporânea (sempre citada entre aspas pelo escritor) gere, desde sempre, polêmicas, chamejantes discursos, afeições e repúdios infindáveis. Como a arte de qualquer tempo, diga-se de passagem, pois que a arte dos tempos idos um dia foi contemporânea, se bem me lembro. Mas daí a reunir inúmeros artigos em um livro de duzentas páginas para um assunto esgotado na epígrafe, me pareceu ousado demais.
Devo, aliás, apesar dos grotescos erros de português da edição, parabenizar a Vieira & Lent Casa Editorial Ltda. por essa empreitada tão “vanguardista” e esclarecedora.

O escritor, já velho, escreve velhamente suas velhas teorias sobre velhos movimentos e velhos artistas. Há mais sentido e proficuidade na produção artística de Duchamp, cuja obra baseava-se em seu tempo, do que ler um livro que tenta tratar de um assunto que não pertence ao escritor.
Para escrever sobre algo não basta acreditar que o assunto está dominado. Simples assim.

O senhor escritor Affonso Romano de Sant’Anna (cristão e amantíssimo de Duchamp, ao que tudo indica) não é nenhum artista (sua fracassada poesia não chega a contar) e, recalcado, tenta atacar uma arte tão consolidada e irrevogável quanto o próprio sol, a lua, os cegos, os mudos e o asfalto. Coisas bem velhas, por sinal. As vanguardas artísticas do século XX e a arte contemporânea, em geral, têm os seus conceitos já envelhecidos, empedernidos e, pasmem, ultrapassados.

Não há nada de errado em ser antigo. Dito isto, há que se lembrar que também não há nada de errado em ser contemporâneo. O velho conflito de gerações ataca novamente. Penso que deva existir a hora em que as gerações mais enrugadas e inchadas precisem, sim, passar o bastão e/ou largar o osso. Por amor próprio e por amor ao seu legado artístico. Já que, segundo Ionesco, o humanismo caducou, é necessário que as próprias gerações percebam que estão caducando (mesmo que isto configure um paradoxo, já que é justamente pelo fato da coisa ter caducado que ela não nota que caducou), sem que ninguém precise alertá-las, como manda a boa educação. Caso contrário, viverão (e viveremos) sua indigência mental e sua total falta de dignidade.

Quero crer que não quererá o senhor escritor ser ele próprio o messias a tentar separar o joio do trigo, a dizer o que é e o que deixa de ser arte.

Talvez ele seja romântico ao extremo, talvez chore vendo Van Gogh, talvez chore vendo telenovelas. Talvez pense que o que ele pensa sobre arte contemporânea impedirá ou modificará o curso da arte contemporânea. Talvez seja um completo parvo. Mas ainda assim, não basta que passeie pelos museus, tire fotinhos ridículas (e as deixe publicar depois), identifique e observe as obras, leia, releia e perfure de tanto reler os clássicos, dê seu sangue pelo flácido ponto de vista que sustenta. Nada disso basta para que ele pense que pode escrever sobre aquilo que ele mesmo não pode fazer. Falta-lhe autocrítica, falta-lhe real inserção no mundo atual. Ou será que pretende que retornemos ao barroco, puro e original?

O marketing é a mais eficaz mídia do nosso tempo. Inútil negar. As relações (ou seriam correlações?) entre arte, capital e mercado do nosso tempo operam em esferas semelhantes, se não idênticas. E não são excludentes. Sua interatividade é necessária e nos interessa. Elas somente existirão no mundo atual assim. Não adianta nostalgia tardia.

Sei que o senhor tentou inscrever o seu nome na história — a fotografia no Museu D’Orsay fala por si mesma — mas a história, assim como a sua categoria judicativa de pensamento, morreu mesmo. De desgosto.

A arte é maior do que aquilo que pensam dela. É independente e cruel mas é por isso que é arte. Ela não existe para resistir à análise técnica, para revelar conhecimento algum de sua própria história, para mostrar qualquer força de pensamento teórico e tampouco para reordenar caos nenhum. A arte não pede renúncia a nada, inteligência ou sensibilidade. Por que dar a ela um papel que não lhe cabe?

Senhor escritor incipiente, percebo que a diferença entre a roda da bicicleta, a lata de merda e a tua “obra de arte” favorita está na lágrima — o corpo não seca depois que morre? — que mareja o TEU, e somente o TEU, olho.

Duchamp e seu urinol permanecerão (são os dedos que vão embora e não os anéis), senhor Affonso Romano de Sant’Anna, e você?
De você, already ready-dead, não sobrará nem lata de merda nem privada.

Monday, June 19, 2006

Olhos Escravos e Vida Postiça













Um pouco de elasticidade Por favor
My Lungs Wide Open
Não me mostre o ordinário O presunçoso Eu já conheço
Sinto as falanges alcançarem meu sexo
Butterflies all around it
Meu emocional está arrasado Devastado
Depauperei papai

In my hair I want to feel the mild reviving April night air
Não posso mais com as vírgulas
Virgens vírgulas Não
Te decifram me descrevem Me pausam
No tempo no espaço feliz
WYETH KNEW ME VERY WELL
Dirijo meu carro Rápido demais
A Pele Voa
Vai entrando
Em contato
Com a pele do Globo a pele do Mar a pele do Olho a pele do Pico
A Pele Do Mundo
Loslösung Desprendimiento Détachement De Minha Areia Interior

Sempre volto aos Mestres às mesmas canções inscritas
I turn into bear while They scrape my broken backbone
How Outlandish Of Me eu sei eu sou
Eu mesma lavarei as barrentas mãos de Deus
O lago em torno Sim eu canto sim Fujo corro
Perco o sapato CAIO JUNTO DO JUNCO sento pulo berro morro
Eu lambo todos os sapos deste brejo
A casa longe eu vejo Me arrasto A janela está lá Até ela até ela
Como todo o mato Não desperdiço nada
Folhas na boca na mão NOS MEUS FLANCOS MOLES
E é já É agora É sempre assim É um amor esse meu jeito
Arbitrário irregular your thumbs about my neck when our lips met
Encantador Parasitário Funerário Eu te olho mas não consigo te tocar
Não chego até você Sorry The Girl Is Silly
Não se zangue Já encomendei nosso Prozac
Sou teu pequeno vulcão particular e adormecido
YOUR HANDS TEASE MY CRACK Can they please stop
Will I ever be myself down here in the tropics

Meu caminho montanhoso EU sigo só
Minha estrada pedregosa só EU a percorro
Minha via comprometida só a piso EU só a respiro EU
Meu trajeto perigoso EU perfaço sem ninguém
Minha fase terminal EU a quero só para mim
Não olho para o lado Não quero nada
Ao amor dou UM adeus distante À distância
One can’t handle life or love
But I could lead you to the very pit of hell
And you would willingly follow
Estou Sendo Operística Demais Para Você?
Não responda
ainda.

Saturday, May 27, 2006

Reação em Cadela

[Erotismo & Morte
ou
Abandonem Qualquer Esperança de Influenciar-me]

Dessa vez ele gozou.
Dentro.
Sua expressão aleivosa e lucipotente me horrorizou.
Como uma mão enluvada, escorreguei para fora da cama.
A orgia é o momento explosivo da modernidade, pensei. O que fazer após a orgia? Me sentia cansada, tinha fome, tinha ódio. E vontade de matá-lo. Eu sou gentil, talvez esquartejar seu corpo inconsciente, úmido de humores mórbidos, que eu tanto lambi. Congelar seus pedaços para mais tarde.
No princípio um beijo, um cigarro e uma esperança. Eu precisava deixar a vida de puta. Não estava sendo racional e me sentia cartesianamente errada. Gostaria de passar a fase das peripécias. Gostaria que Deus me desse, a mim também, a paz sexual.
Para mim o amor não virá jamais, penso isso abrindo a geladeira e pegando a margarina. Que, por sua vez, pobre coitada, será usada como vaselina. Nem a ela lhe foi dada a chance de escolher. Ligeiramente desviada de seu fim primordial.
Com os cinco dedos tortos deslizando no meu rabo, ele sorriu. Pediu meu botão rosado, a real entrada do castelo. Não, os olhos são apenas as janelas, meu bem. Com venezianas. Cerradas. Rodopiando, os lírios negros totalmente maduros. A pulsão secreta me mordia as entranhas, o prazer em mim, queria aquela entrada, pedia, piscava. O sol da tarde na minha boca, o mundo, os carros, a menina rebelde nos campos de girassóis, as folhas do outono, nada disso iria parar. Mas a coreografia era bonita, e incansável.
Afinal de contas, It’s In Our Hands. It always was.
Ele estava gostando da conquista, de fincar a bandeira. “Imperialista!”, insultei em silêncio. O progresso se esconde aqui, bem dentro do meu cu. Esse mesmo cu que todo mundo come, mastiga e esnoba. Esse mesmo cu que é lugar do início da metástase. Um cu promíscuo e elástico. Quente e molhado. Um cu interrompido, cheio de angústia e júbilo. Cu feito de pão. Um cu Naïf. Um cu De Stijl. Um cu Dadá. Esse cuzinho aqui, que se acomoda em torno da tua vara. O mesmo cu que olhava para aquele pau, preto e duro, caminhando em sua direção. Talvez fazendo imperceptível esgar de racismo cotidiano. Enfim, um cu nazista. Pensava que depois precisaria se lavar.
Me fode em inglês, eu disse.
Entrou, devagar, raspando pelas paredes, rasgando. Uma amiga me disse que o primo lhe havia contado que buceta de nêga parece que tem uma lixa dentro, e que buceta de polaca é aguada. “Fuja loca!”, me ocorreu. Pensar nisso agora é simples sintaxe estética: somos todos secretamente iconoclastas. Quando um construtor de software introduz uma soft bomb no programa, usando sua destruição como meio de pressão, não está tomando o programa e todas as suas operações como reféns?
Especulei sobre o mal. Ficção-científica? Nem tanto. Não sou contra violência gratuita de vez em quando. Procedimentos cirúrgicos desfigurantes. O contágio do terrorismo acontece através do amor.
— Não sinto amor em minha medula.
Ele acaba de foder um plástico — chego a essa conclusão primeva — , acaba de foder uma lycra. Sensation. Fake Plastic Trees e o mundo é de mentira. Não há reprodução, somente vírus eletrônicos. Ainda estou fértil, ainda sou a deusa da fecundidade. Minha reação é um processo imoral, resultante dos pulmões cheios de rugosidades.
Vem, meu amor, meus rins beberão a tua porra!
Inscreva tuas legendas pagãs em minhas carnes claras. Eu, de quatro fazendo uma chupeta levemente lisérgica. Um boquete apenas. E nada mais. Nasci para isso mas nego minha existência.
Me disse que o bico do meu peito estava mais escuro porque ele acabara de mordê-lo mas que originalmente era meio rosa.
Meio rosa? Alguém conhece essa cor? Azul da Prússia, Verde-pavão, Magenta eu conheço. Mas “meio rosa”???
A arte prolifera por toda parte, oras.
Baudrillard para o raio que o parta, J.J. O’Molloy somente na página 181 e olhe lá. Sou burra sim, e daí? Para trepar é preciso doutorado? Ora, o feminismo caducou! Fora da minha casa agora!
Foi-se. O pau babando ainda. Tinha me dito que eu era uma diva.
Acho que é mais seguro transar com michês. Meu sonho é cinco de uma só vez (a R$ 20,00 cada gastarei R$ 100,00 no total: mais e eu abro sindicância no Procon); se dois forem bonitinhos, faço até DP.
Há ainda uma lateralidade quando a expurgam de toda essa superestrutura psicodramática?
Quanto a mim, gozei duas vezes. Uma com ele metendo e outra com ele me chupando. No banho, eu lavei a calcinha ‘lilás-do-Conde’ suja com shampoo para cabelos crespos e quimicamente tratados.
Ah, não há amor como o futuro amor.

Tuesday, April 18, 2006

Not for sale in the European Economic Area or Switzerland



meu nome próprio de batismo, uma personagem autoral que habita em mim.
Dudude Herrmann

Dança em pleno rosto
A pobre piedade confinada
Nelí Melo

Respirar tornou-se impossível
Dez os dedos em minha garganta
O oxigênio em balões estourados
E meu olho ainda brilha.

Talvez mais, talvez sujeira, talvez tardio, talvez tempo
Parceira do vazio, a estrada está cheia de flores
Talvez eu mereça
Talvez jogo de Satã.

Minha face é uma só
Minha beleza renascentista
Minha fama de rês
Homônima ferida minha.

Eu não durarei para sempre,
conheço as impossibilidades de cor,
imploro pela segunda chance,
esqueço os joelhos na pedra.

Somente o vento me respeita
A água me alimenta
O vácuo me suporta
A morte me aguarda.

Foram anos, reconheço
Foram embora para nunca voltar
Foram amigos, foram certeiros
Eu deponho minhas flechas e espero, de calcinha abaixada, brega e caída, argila na cara, cabela louca, ninfômana estóica, contando pentelhos furunculosos, não me sinto à venda, ainda

E l é t r i c a

Vem, Electra minha. Tu, que matas um. Matas dois. Matas trinta. Vens de longe para tirar a ordem. Vai, Electra sapeca. A safadinha da escuridão. Nunca mais irás parar de gritar? Tu, que nem falas português. Vai, Eléctrica quiloméctrica. Tu, que conheces tão bem o pau do pai. Vem, Eléctrica concrecta. Hoje aqui amanhã lá. Vem... vai... Eléctrica! Pelada em seu duro trabalho. Tu, que padeces de horrível vida. Vem, Palas mandou dizer o que tens de fazer. Triste porque matas, e não cessas de matar. Tu, que nunca esqueces um rosto, nunca amas uma mãe. Vem, Eléctrica zagueiro, tu, que lavas o cabelo o dia inteiro, pega a bola e marca! Vai, faz o gol do teu Natal! Vem, acesa e chamejante, tungstênica e histérica, esquizofrênica e hiperbólica Elétrica. Vem, hidrelétrica dos sonhos. Tu acendes um país. Dai-me à luz, filha eterna. Vai, Elétrica despentelhada em seus doze trabalhos. Namorada de Hércules, filha de Freud. Queres análises? Vai, fuja, fuja agora! Cadê o teu bramido de horror? Quero a tua companhia, Elétrica, vem... Conheço os teus desejos. Mas nem o detentor do cetro e do trono será capaz de preservar o teu poder, nem aquele que abandonou tua cidade entrará nela novamente, pois nenhum deles no momento em que teu pai era banido vilmente de sua terra apareceu para apoiá-lo e defendê-lo; tu, e somente tu, Elétrica, conseguiste dormir com teu pai. Acariciaste teu pai com o choque do teu amor. Com tua voltagem máxima. Com teu grelo em chamas. Tu, que estás de luto máximo. Vem, queima, brilha, incita à violência, louca Elétrica, arde, vai, derrama ódio, incendeia, destrói a fuselagem do mundo! Vai, flameja a fiação do tempo! Vem, calcina os olhos de quem te vê! Vem, Elétrica, vem! Agora vai! Mexe a cadeira!

Friday, February 17, 2006

Alfreda

Um vazio enfermo. Um sentimento de ressentimento. Na boca um corte de frio. O sangue endurecido. E um vento acompanhado de um jato de sol cuja luz não iluminava nada, aliás escurecia mais ainda a vista. À vista. Quanta dívida. Quanta coisa em tão pouco tempo. Para nada... Alfreda pensou em começar a pular. E foi o que fez. Ficou lá, pulando em um só pé. O que doía mais. E chorava. E cantava de tristeza uma música bem alegre. Que era para sofrer mais. O impacto seria maior. Pulava furiosamente. Com muita violência. Pulava. Pulava. Pulava. Era sua cruz, pensava. E era mesmo. Que se há de fazer? Pular! Quando suas forças resolveram ir embora, Alfreda parou. E num rochedinho sentou. Mas agora não chorava. Suava.
Agora estava andando um pouco. Para descansar. Seus olhos um pouco inchados traziam um dossiê consigo que explicava sua vida. Sua vida em fase terminal. Tinha um câncer. Da pior espécie. Uma que corrói a borda da alma. E que, por fim, põe fim. Alfreda tomou um sorvete de eucalipto. Era nojento. Traduzia o sabor de tudo quanto houvera experimentado. Sugou com voracidade. E pediu outro. Depois vomitou tudo. E voltou a chorar. E pulou mais um pouco. Com o pé doído. Teve pensamentos de curso doentio. E resolveu parar tudo. Pensou o quanto. Pensou o tempo. Pensou o pouco. Parou de pensar. Chorar era melhor. E, no entanto, gargalhou como uma louca no meio da praça. No exato instante em que um amontoado de rapazes passava. “Que raça!”, pensou. “Que desgraça!”, pensou. “Ninguém me dá bola”. E uma criança caiu na sua frente, derrubando em si uma bola. Alfreda, de um chute agressivo, fez a bola atravessar a avenida. “A avenida da vida”, pensou. A mãe da criança teve um surto. Correu atrás da bola enquanto julgava a reputação de Alfreda, que já havia tomado a chupeta da criança e corrido em direção do parquinho rindo infamemente. “Vem pegar, vem!”, berrava. “E pega aqui também, ó!”, enquanto bolinava em seu próprio púbis, meio de fora. Mas correu tanto que a mãe deu que era uma doida.
Agora corria, despenteada. Depois de algumas oito quadras parou. Com uma chupeta na boca. “Agora estou melhor”. Chorou mais um pouco, patética e surtada. Como queria que pensassem.
“Se eu te amo e tu me amas...”, cantarolou entre dentes e látex. Que seria o amor? Borracha. O amor é borracha. “Todos aqueles que diziam me amar só fizeram apagar o amor em mim. Me pisotearam de uma tal forma, que sinto como se fosse uma lousa velha e quebrada. Eu sou uma lousa”, era o curso da sua mente.
Jânio, seu último apego, sempre repetia coisas como “Meu bem, que é que tu tens? Estás tão acanhada. Não te sentes à vontade comigo na tua presença? Tu não te soltas. Tu precisas tirar toda a roupa.” E Alfreda o repelia como a um tatu. “Mas eu sempre faço esse furinho na calça, seu tarado! Não passa, é? Não passa?”.
Jânio foi rápido na vida de Alfreda. Não havia tempo a se perder na vida de ninguém. Ele não tinha paciência para ensinar, ela não tinha para aprender. E a vida se resume nisso. Um tempo perdido. E olhe que Alfreda era bem fogosa. Frigidez passava longe. Precisava de um cursinho semi-intensivo. E se masturbava com tudo e em todos os lugares. Agora mesmo, com uma chupeta.
Pulou. Pulou. Pulou. E a chupeta também pulava. Parou. E a chupeta chorou. As duas suavam.
Alfreda estava particularmente muito triste a essa hora da tarde. Sentou-se a um banco na esquina. E principiou uma reza. Cheia de promessas. Que, de antemão, não iria cumprir. Mas avisou ao Senhor, que do alto da Sua sabedoria compreenderia. O Senhor era um devasso, mas sabia das coisas. Só que achava meio concupiscente que o Senhor só trajasse uma tanguinha mal enrolada nos flancos. Mesmo assim, era o Senhor. Tratava-se do Senhor.
E a pequena Alfreda queria tanto dormir por cima do Senhor. Por isso urrava seu sortilégio no meio da rua. “Oh, Senhor! Que tua mão me bula! Me bula!”. E o Senhor bulia.

Wednesday, February 08, 2006

POESIA PAGÃ


Homens apreciam muito o clichê.
Gostam de dormir com o estereótipo.
Fazer sacanagem catalogada.
Eles gostam quando eu bebo. Eu os amo.

Meu coração não é mais o mesmo. Faz tempo que deixei de ser jovem.
Tenho culpa de tudo.

Não suporto mais minha própria complacência.

A colheita é tão infértil quanto o plantio.
Besunto meu sexo escorregadio.
Aguardo o ano novo desde que nasci.

Preciso da palavra, preciso de consolo. Quero ficar no meio do furacão e perder a roupa no vento e sentar no mato. Quero engolir a lua azul.

Quero perder o corpo.

Sem força, suspiro pelos cantos como uma criança trovadora.
Espero o fim.
Mostro os dentes e o bico do peito sem nenhuma intenção; me arrasto pelo deserto e não é água o que procuro.

Ouço cães em redor.

Arrebento meu punho na porta, ninguém abre. A luz acesa e ninguém abre.
Mãe?
Pai?
Sinto a experiência chegando.

Minha gengiva não me obedece. Não tenho apetite, mastigo poucas vezes, indolentemente, sem firmeza.
Eu adoro cair.

Agora deito em meu colchão King Size e imagino o casamento à luz de velas. Terei um lindo dia de noiva. Varrerei a podridão para debaixo do tapete. Dissimularei minhas manias. Arrebatarei todos os corações com uma simpatia tão bem arquitetada quanto o Taj Mahal.

Estou de quatro na lama.

Levando ferro e comendo grama.
Eles arrancam tiras do meu pescoço a dentadas.
Meus amigos estão longe. A noite já vai alta. Não sei para onde estou indo. Uma hora tudo acaba e onde está você que não responde nada, meu amor?

Estou grávida de um filho teu e meu cu sua.



inspired by Björk’s Pagan Poetry.

Hidebound me

Doing things higgledy-piggledy
And suffering from every drop of my blood
No tutorships allowed
With a vague sense of what is wrong, I go
Open the fingerprint
The fingers I was given to touch with
So you see my copious whimper so barefacedly
My dad a gaunt dotard
My mom an ewe on the flock
Everyone takes care of the inaptitude in me
They mourn, I move my namby-pamby ass
In every nook and corner I know it
My ordnance down
My eyes up
My property pledged
I cum and I cum and I cum
Men after me so pro rata
And I regardless on what they say
I saunter so salty holding my unhealthy life
I use strange hands
I use a strange body
I go westwards.