Friday, September 16, 2005

Hildegard

Uma senhora, trajada de safari com um pequeno colar de quatro voltas de descomunais bolas de pérola, maquiada com excesso (o que a fazia aparentar uma engramponada estátua de museu de cera), leva seu cão afghan preso a uma coleira de quase cinco metros. De tempos em tempos, o cão a enlaça: o que a desequilibra; de vezes em vezes, outros transeuntes têm problemas com as pernas atadas pela coleira. Todos dedicam um tempo, bondosa e impacientemente, a desemaranhar-se. A senhora sua.

Wednesday, September 14, 2005

Tungstênica




Sento agora, um pouco eu sinto.
Um pássaro me contou que as coisas do lado de lá estão mais verdes, ou, pelo menos, com mais nuances de verde.
E agora, com a minha cara já tão batida, eu brando meu osso encapado de carne a que chamam dedo em frente à cara da tropa de choque.
Terá o mal nos assolado sempre?
Ou desde sempre somos incapazes de fazer justo juízo das coisas?
Cada vez mais percebo que o que perece é a eternidade.
E a Bic continua lá, com sua incrível esfera de tungstênio.

PARALLEL VOID


"Do inferno ouço o assovio dos danados"
Léo Glück
"Junk is image"
William Burroughs
"Estendi cordas de campanário a campanário; guirlandas de janela a janela; correntes de ouro de estrela a estrela, e danço."
Arthur Rimbaud




Veterana solipsista, eu pressiono a contusão.
Eu transfiguro o caráter.
Você se disfarça, a pedrada não te acerta.
A corda está roída.
Eu vazo o sangue inóspito.
Eu respingo sordidez.
Eu engulo a neve.
Você mal vê meu tapa.
A última aponevrose apoteótica.
Você precisa se despedir das minhas trapaças.
Minha matéria é vazia.
Meu veneno é inócuo.
Eu voto nos derrotados.
Eu consumo minha bílis.
Num espasmo, eu abro secretamente a passagem escondida para teu sêmen.
Eu naufrago no ácido espúrio da paixão.
Você ri da minha hospitalidade.
Você não sofre com minhas epopéias mal contadas.
Meus heróis enxovalhados.
Eu lambo a frase proferida.
Eu descasco a ferida.
Eu perjuro.
Você me mata aos poucos com teu amor insosso.
Meu coração pede teu casto esputo.
Você insonoro em teu amor sem gosto.
Nós não te salvaremos.

Religiously Exhausted


Huffiness of the gods
Miocene ponderable
Life got started too late
Blood had already gone
Renowned as blue
Underhand heart of no one
Magistrate of hate
Indeed a lovely girl
Beautiful smile, broken heart
Gloomy look at the emunctory system
Discrepant information
I´ve been seriously slingshot
Stump orators killed
Always off my stroke
Between acts rustic sluts
Ordain moslem to mazurk
Fickleness of esperantists
Hopelessly devoted to you
Bayoneted by canasters
Clawed clear-sighted
Ready to die
My cutaneous love
Gratifies her prosecutor
By the theft
Teutonically raised
Thankful to the wounds
At your rock-bottom price
Precocious precept of oblivion.