(para Mari Paula. Para Retrópica)
A violência nos une. Sangue. História. Medo.
A maior cadela do mundo, o fascismo tem o rabo arrebitado.
Abaixo do equador tem tiro, indigência e carnaval. Escravo a dar com pau,
a Bomba H contra todos os amores. Fugir ou não fugir: essa é a questão.
Única lei do globo, a volta completa do sol. Acidente de percurso, o ocidente
foi um sonho secular.
Só me interessa o que é sem Deus. A mulher irá se levantar. Mãe de todos
os fogos. A lei será feminina. O leite jorrará das tetas pretas para a goela dos
incautos. No futuro a coalhada e o estragão. Serei famosa em Madeira Santa.
Nós já cansamos da gordura no papo dos velhos desdentados. Faremos
elegia do fracasso. Fatigadas do terno e da gravata, a batina do pedófilo nós
pisotearemos, sua família — pai, filho e espírito santo — mataremos, da careca de
Freud a Hitler efeminado.
Na mão dos ratos o queijo tem cara de dólar e as fezes alimentam a
nação.
Em meio aos desnudos, quero ver qual desgraçado me vestirá.
Câncer no norte, Capricórnio no sul da morte: a vagina uma ferida
tropical. De cerveja e escravas brancas, o amor publicitário tem o rabo
arrebitado.
O mar latino fossa aberta da humanidade, nosso hidrogênio é artificial.
Nós amamos o algoz, nosso gozo vem com surra, o imigrante é o sonho canibal.
Contra todos os imperialismos neuróticos de guerra e todas as formas
certas de fazer amor, uma religião desbunde vislumbra o amanhecer no Vidigal.
O último indígena embarcou para Paris. O chão de estrelas uma galáxia
penumbrosa no subúrbio. Juntas, Fazendinha e Alhambra sapateiam arabescos
islâmicos ao pé do Morumbi.
Queremos a revolução troglodita das tripas, a alma europeia é um cárcere
trincado, a unicidade da rebeldia terá pulso de mulher. Num dia negra, no outro
travesti.
A idade das trevas da América. Os platôs da América convulsa. O novo
mundo foi corroído pelas traças e por todos os boys.
Cristo aqui comeu alfafa e vomitou discórdia na província cisplatina.
Cheirando a pólvora do Acre, Jesus vende droga na fronteira. É submisso e tem
dinheiro na lapela.
A gramática não é nada para quem escreve com flechas, a bondade é uma
mala roubada no centro de São Paulo. A Floresta Amazônica um blefe
setentrional, mato escaldado de abismos.
Onde a mesa é branca, esperança e magia só podem ser negras.
A praga neopentecostal tem o rabo arrebitado. O patriarca em praça
aberta degolado.
Bens de consumo impróprio, o instinto guarani, a paçoca e a costela, o
charque e a chanchada. Nosso biquíni tem estampa de Natal.
No pó da estrada a cocaína da Colômbia, a usura, o recalque e a fofoca.
O assassinato da transexual ao pé do Pão de Açúcar, na Sé, no Pântano do
Sul, na Estação Central. Na árvore do conhecimento a jararaca e a jiboia. Na
biboca do bocó vejo Iracema jururu.
Já não se admite o seco da brancura, a branquitude está desidratada, a
elite um fantoche dos velhacos. A moral é chão militar pisado e encerado. A
morte pura fuga narcótica. Não admitimos o nascimento por vontade própria. O universo
é terreno inóspito, a galáxia uma quimera abissal.
O espírito lacuna verde no coração da treva, o corpo um delírio
emocional. Faremos a mulher retornar ao trono sagrado, ser imortal. O pênis
ereto um disparate desigual.
Perdigueiros. Grosseiros. Corriqueiros. Tinteiros. Obreiros. Terceiros.
Jamais certeiros.
O instinto corrupto dos ladrões. Vira-bosta digital, povo e alta corte dançam
a morte sazonal dos direitos. O humano um drone de silicone realístico do Vale
do Silício. O sexo um frio colossal.
Já tínhamos a porrada na cara e o dente quebrado. A idade da corte. A
transfiguração da sorte em decrepitude intelectual. Contra as osmoses
correligionárias e a especulação imobiliária. Contra Ramsés II e todos os
Alcorões. Contra todas as Torás e Moisés envilecido. Deus é Ranavalona II, uma
gota de lágrima em cada rosto barbarizado de fome.
A democracia o sonho grego estuprado. Deu chabu. Deu azar. O rabo sempre
arrebitado.
A tristeza é a prova cabal.
De Pindorama só parir com dor. O matriarcado um desejo
engavetado. Vera Cruz um quase continente feito de barro arrasado e povo
calado, uma força centrípeta da natureza que retrocede acelerando, uma estranha
ordem vulcânica que suga a lava para dentro, fosso de lamento, marcha à ré com
sorriso no rosto e samba no pé.