"Oh, querido meu, só te direi que o amo se me estourares o rabo até a última prega", foi a resposta que me ocorreu em meio ao estardalhaço dos metais, a produção em série dos carros, o alongamento a que o corpo masculino recorre diante da falta de trégua da natureza. Apenas em pensamento, no entanto, enquanto da parte da ação física o homem já me arrancava as roupas a dentadas e rasgações, socou-me a cara com o pênis ereto e viril, que esfregou com violência nos bicos dos seios endurecidos, acompanhou o tesão que produzia bem de perto com socos, tapas e mordidas que já faziam a existência desfibrilar. Eu pensava nas amigas feministas e na cultura do estupro durante o tempo em que era varada pela caceta animal em pleno vigor e abundância terrenos, eu dava risada entre uma contração muscular e outra, quase desfalecida da parafernalha da reprodução que queimava no meio das minhas pernas, não reconhecia borda alguma, entrava e saía à minha revelia para, ao final, cuspir a porra vital sem sinal algum de agradecimento. Tremente, pensei em fugir. Mas não poderia, aquilo se repetiria, era sina, era para o que viera, disse a que veio. Veio pro beijo socado com angústia, a mão espalmada nas nádegas brancas, firmes e frágeis, o relho no lombo de mulher. O sexo xamânico transcendental, a piada pronta, o grito de rebeldia deveria permanecer contido provisoriamente. Quando estourasse, todos saberiam o que é o amor.
Esboço de análise semiótica de "Sem Anestesia", de Rogério Skylab
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“Ai!”, grita o sujeito, que cumpre também a função de interlocutor no
impasse entre estesia e anestesia que o texto “Sem anestesia” empreende. Um
int...
4 years ago
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