Wednesday, October 05, 2005

Mas com que!

"as pigs do"
Léo Glück



mas com que estranha e morna frieza vi meus dias se indo
como loucos dançarinos em portas de bodegas bebendo e caindo
eram tão bons e malucos que jamais pensei tê-los fugindo
enfim, eu não tinha vivido. Tudo se protegeu demais de mim
depois ainda teria de lutar pela lembrança de alguns
teria de experimentar sal nas feridas
grunhiria sem dor das mais fundas imagens gravadas
e pecaria tentando repetir o que não quis dizer nada
sem sair à regra, perdi nesses ossos a velha recordação
mesmo que a sinta mover-se nos meus planos, contando meus anos
anos de pluma, mais pesados que chumbo, caídos na injúria do mundo
foi nos doces reversos da vida que acordei do meu sonho
meti-me em trajes maiores, ocultei-me no sono
e com que insana e cruel alegria chorei do meu tempo
tão pequeno, amargo, sem fim e sem meio
desovei meus pudores nas águas do banho
minha era de antanho
tantas luzes que vi acenderem e que pensei ser o fim
os degraus da inércia dos bens que ganhei
parei de conhecer as análises que de outrora juntei
mas sei que com menos tempo mais faço juz ao que sei
fiz juras falsas de amor que depois me cobrei
e me cobro até hoje, devo, não nego, quando puder eu não sei

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