Wednesday, September 14, 2005

PARALLEL VOID


"Do inferno ouço o assovio dos danados"
Léo Glück
"Junk is image"
William Burroughs
"Estendi cordas de campanário a campanário; guirlandas de janela a janela; correntes de ouro de estrela a estrela, e danço."
Arthur Rimbaud




Veterana solipsista, eu pressiono a contusão.
Eu transfiguro o caráter.
Você se disfarça, a pedrada não te acerta.
A corda está roída.
Eu vazo o sangue inóspito.
Eu respingo sordidez.
Eu engulo a neve.
Você mal vê meu tapa.
A última aponevrose apoteótica.
Você precisa se despedir das minhas trapaças.
Minha matéria é vazia.
Meu veneno é inócuo.
Eu voto nos derrotados.
Eu consumo minha bílis.
Num espasmo, eu abro secretamente a passagem escondida para teu sêmen.
Eu naufrago no ácido espúrio da paixão.
Você ri da minha hospitalidade.
Você não sofre com minhas epopéias mal contadas.
Meus heróis enxovalhados.
Eu lambo a frase proferida.
Eu descasco a ferida.
Eu perjuro.
Você me mata aos poucos com teu amor insosso.
Meu coração pede teu casto esputo.
Você insonoro em teu amor sem gosto.
Nós não te salvaremos.

1 comment:

Rafaella Marques said...

faltou :Eu amo o meu cheiro.